sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

 
Por Sulbahianews/Uinderlei Guimarães
Mônica Alves da Rocha Lima, tia da gestante Renata Alves Cavalcante, 24 anos, que morreu durante trabalho de parto, falou com exclusividade ao Sulbahianews na tarde de terça-feira, 2 de agosto, e contou detalhes sobre o que houve no dia 27 de julho, dia em que Renata faleceu.
Mônica, tia de Renata afirma que houve negligência médica
Segundo Mônica, Renata começou a entrar em trabalho de parto por volta das 13 horas do dia 27, e que a gestante, acompanhada de outra tia e do marido, foram a ao Hospital e Maternidade Pró Mater, onde foram atendidos pela médica Celda Moraes.
“A doutora Celda a atendeu, fez o toque, e viu que Renata estava com sangramento, ao invés de levar a paciente para o Hospital São Paulo e fazer urgentemente a cesariana, ela mandou Renata ir para casa, pedindo que ela fosse ao Hospital São Paulo às 16 horas”, afirmou.
A tia de Renata disse não entender porque Celda mandou que ela voltasse para casa, uma vez que a médica sabia que a gestante não poderia entrar em trabalho de parto por possuir varizes secundárias, mais conhecidas como “varizes internas”.
Uma semana antes
Mônica conta ainda que muitas vezes a pressão arterial de Renata subia repentinamente e que uma semana antes ela passou mal e foi levada para Pró Mater. “Com medo de que o atendimento demorasse, antes de ir para o hospital dei a Renata um Buscopan para que a pressão baixasse”, disse.
No hospital, Mônica disse que Renata e ela esperaram por mais de uma hora até serem atendidas pela médica Celda. “Quando a médica chegou, a pressão já estava estável, graças ao remédio que Renata tomou antes de sair de casa. Perguntei a Celda se não era necessário marcar a cesariana, pois minha sobrinha corria risco de eclampse. No entanto, a médica apenas pediu para aumentar a dosagem do remédio de pressão, afirmando que sabia o que estava fazendo e nos mandou de volta para casa”,  afirmou.
Renata (foto) durante a gravidez
Mônica conta que não ficou satisfeita e pediu a Renata que marcasse uma consulta com outro médico. A consulta aconteceu no hospital Sobrasa, lá, o médico Ubirajara pediu um exame chamado Dopplervelocimetria Fetal – que analisa a vitalidade do feto através da medição da velocidade do fluxo sanguíneo na placenta –, recomendado em casos de gravidez de alto risco, entre a 18ª e a 22ª semana. 
Com o resultado em mãos, o médico disse, segundo Mônica, que a criança estava em ótimo estado e que se Renata quisesse já podia
marcar uma cesariana para o outro dia. “Ele disse também que no estado em que estava a criança nem precisaria passar pela incubadora”, disse a tia da gestante.
Entretanto, Mônica disse que Renata não optou pela cesariana imediata e decidiu esperar por uma sinalização da médica Celda.
Voltando ao dia 27 de julho
Depois de ser atendida por Celda na Pró Mater, às 13 horas, e ter sido recomendada ir às 16 horas ao Hospital São Paulo, Renata assim fez.
Em entrevista um dia após o episódio, o médico diretor do Hospital São Paulo, João Bosco, disse que o trabalho de parto pode durar até mais de 12 horas, o que é considerado normal, por ser um período em que a mulher está tendo contrações, dilatando o colo do útero para o nascimento da criança, mas, de acordo com Mônica, a gravidez de Renata era de risco. “A médica sabia que ela tinha varizes secundárias e que não podia entrar em trabalho de parto, ela acompanhou toda gestação e tinha os exames”, disse Mônica.
A tia de Renata disse também que a gestante já deu entrada no Hospital São Paulo sentido muitas dores e que enquanto esperava pela médica Celda, a sua bolsa rompeu. “Ela sentia muitas dores, gritava por socorro ao seu pai que já faleceu há muito tempo, mordia os lençóis, teve convulsão e perdeu os sentidos. Depois disso, uma enfermeira a levou para o centro cirúrgico e não deixou que ninguém da família a acompanhasse. Celda só chegou por volta das 18 horas”, contou.
Ainda segundo Mônica, a médica, já no centro cirúrgico, fazendo a cesariana de Renata, mandava os enfermeiros informarem que ela estava bem. Minutos mais tarde, a família da paciente se assustou quando viu entrar na sala de cirurgia os socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que saíram com a Renata numa maca e a levaram para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal, onde Renata faleceu.
Os familiares de Renata também disseram não entender porque o corpo não foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exames de necropsia, sendo liberado de imediato no próprio hospital com atestado de óbito apontando como causa morte embolia amniótica, na qual o líquido amniótico, células fetais, ou outros resíduos, penetram na circulação sanguínea, obstruindo a circulação pulmonar. Em 80% dos casos, a situação é irreversível, levando a morte.
O filho de Renata morreu por falta de oxigênio no cérebro
A criança nascida através da cesariana foi encaminhada a UTI do Hospital e Maternidade Santa Rita, porém, também faleceu no dia 31 de julho, às 19 horas, por falta de oxigênio no cérebro.
Para Mônica, a embolia foi consequência do atraso na cesariana após o rompimento da bolsa. Ela afirmou que a família já constituiu um advogado e vai levar o caso ao Ministério Público. “Nós estamos arrasados”, concluiu.
A Médica
A médica Celda Moraes disse que a gravidez não era de risco
Na manhã desta quarta-feira, 3 de agosto, o Sulbahianews também conversou com a médica Celda Moraes. A médica disse que essa é a segunda vez que acompanha a gestação de Renata, visto que ela já tinha um filho de 4 anos.
Celda explica que a gravidez de Renata não apresentava risco até o rompimento da bolsa.  A médica também falou sobre a ultrassongrafia feita no Sobrasa atestando que tudo ia bem e reafirmou que não havia nenhum fator de risco na gravidez. Ela esclareceu também que ter varizes secundárias não significava risco para a gestante.
Sobre demora no atendimento, Celda disse que o que houve foi um procedimento normal e fez a mesma afirmação do médico João Bosco, que um trabalho de parto pode durar até 12 horas. Ressaltou também que tudo corria bem, até o rompimento da bolsa, quando Renata sofreu embolia amniótica. “Durante o parto, ela teve embolia amniótica, um caso raro que pode acontecer a cada 30 mil partos, um caso raro e grave, pois você nunca sabe quando vai ocorrer. Normalmente, ele acontece durante o trabalho de parto, como no caso da Renata”, explicou.
Celda confirmou que Renata esteve na Pró Mater por volta das 13 horas, onde foi constatado que era realmente o dia do nascimento do bebê. A médica também confirmou a entrada da gestante no Hospital São Paulo por volta das 16 horas e disse que meia hora depois recebeu um telefonema informando que ela tinha dado entrada no hospital, que a bolsa tinha rompido e as contrações estavam aumentando. “Então pedi para fazer os preparativos, eu estava indo para fazer o parto. Logo em seguida, a enfermeira me ligou novamente informando que Renata e a família estavam agitados, disse para encaminhá-la ao centro cirúrgico, pois eu estava chegando. Depois, recebi um novo telefonema, desta vez a informação era que Renata estava sendo entubada, percebi que Renata estava com um problema que até então não sabia”, contou.
Celda disse ainda que, ao chegar ao hospital, Renata já estava em coma. “Fiquei muito preocupada, e, em menos de 8 minutos, fizemos o parto . Na sala, estava o anestesista, o cardiologista, o pediatra e eu. Acionamos as UTIs de adulto e pediatra”, disse.
Quando tudo terminou, a médica disse que chamou toda a família e explicou o que havia acontecido. Ela contou também que chegou a presenciar a morte de Renata no Hospital Municipal e foi a própria médica quem comunicou a morte à família. “È um momento de luto, sobretudo para a família, e também para mim, como pessoa e profissional, mas, quero esclarecer que em nenhum momento eu fui negligente, sempre cuidei das minhas pacientes, como Renata ou qualquer outra, com compromisso e responsabilidade”, finalizou a médica Celda.


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