terça-feira, 8 de dezembro de 2015



CIDADES

Morte por falta de atendimento médico

Hospital de Queimaduras de Anápolis suspendeu internação pelo SUS?desde a última semana e população fica sem serviço
    
Uma mulher identificada apenas como Ana Lúcia, de aproximadamente 40 anos, morreu na noite do sábado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgências Dr. Henrique Santillo (HUHS), em Anápolis. Ela teve 70% do corpo queimado na quinta-feira, 20, em sua casa, na Vila Esperança, e não resistiu aos ferimentos. O marido dela, João Ferreira Gil, 43, permanece internado na UTI do hospital em estado grave, com 80% do corpo queimado. O crime é atribuído a Egmar Ferreira Gil, irmão de João, que teria ateado fogo no colchão no qual o casal dormia.
O crime, que fez uma vítima fatal e que deixou outra em estado gravíssimo, aconteceu menos de uma semana após o Hospital de Queimaduras, única unidade especializada na área em Anápolis, encerrar o atendimento de pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Hospital de Urgências, para onde foi encaminhado o casal, não dispõe de UTI específica para queimados, o que acaba se tornando um agente limitador no tratamento.
A Polícia Civil chegou a Egmar Ferreira Gil por meio do filho de João, que revelou estar presente no momento em que o tio atacou o casal. As vítimas e o autor teriam se envolvido em uma discussão, sendo esta a motivação do crime. Ouvido inicialmente na sexta-feira, no plantão do final de semana, Egmar foi indiciado por lesão corporal e liberado em seguida. A situação, agora, deve mudar, e ele deve ser enquadrado pela prática de homicídio. Levantamento da polícia indica que na casa em que vivia a família ocorria consumo frequente de drogas.
Hospital Desde a quarta-feira, 20, o Hospital de Queimaduras de Anápolis, referência nacional no setor, não recebe pacientes oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS). A decisão foi comunicada aos órgãos competentes no dia 20 de fevereiro, motivada pelos valores repassados pelo Ministério da Saúde, que estariam muito abaixo do custo mínimo dos procedimentos realizados e pelo atraso constante dos complementos acordados com as secretarias municipal e estadual de Saúde, resultando em constantes déficits para a instituição.
Com a decisão, cerca de 500 pacientes por mês deixam de ser atendidos no local. Mas, conforme informações do assessor especial da Secretaria Municipal de Saúde, Marcelo Daher, repassadas na quinta-feira, 20, o poder público se articula para assumir esse papel como rede própria. “Estamos estruturando a unidade onde funcionava o Hospital do Idoso e funciona provisoriamente o Mini-Cais, para fazer o ambulatório do queimado, voltado aos pequenos procedimentos como curativos e para os casos de pacientes referenciados, encaminhados para o acompanhamento do tratamento”, explicou.
Na rede em questão, o paciente que sofrer pequena e média queimadura será encaminhado à rede de atenção básica, em especial ao minicais, ao Hospital Municipal e o Cais Abadia Lopes. Já a pessoa com grande queimadura deve ser levado para a emergência do mesmo Hospital Municipal ou do Hospital de Urgências, de onde será regulado para Goiânia. “Neste período inicial, nossa unidade de referência nos casos mais sérios será o Hospital de Queimaduras de Goiânia”, disse Marcelo Daher.
O médico lembrou que a área de saúde de Anápolis conversa com o Governo de Goiás para que, juntos, encontrem soluções para o problema, que também afeta o Estado. “Aqui, 40% dos pacientes atendidos eram de outras cidades. Tantos estes, quanto os de Anápolis agora vão para a capital, o que implica em uma situação que preocupa a todos”, avaliou Marcelo Daher, destacando que a prefeitura mantém conversas com outros hospitais locais para construir uma ampla rede de atendimento.
Casos graves reencaminhados Ainda conforme o assessor técnico da Secretaria Municipal de Saúde, a rede que será montada em Anápolis vai absorver grande parte dos casos de pequenas queimaduras em curto prazo e, nos casos mais graves, isso também deve acontecer, mas somente em médio prazo. “É claro que perdemos com o descredenciamento do Hospital de Queimaduras, mas vamos qualificar os profissionais e montar estrutura que atenda de forma adequada e obedecendo aos protocolos, às demandas”, garantiu Marcelo Daher. O médico ainda disse entender o direito do Hospital de Queimaduras em tomar a decisão de não atender pelo SUS, mas destacou que o município trabalha com uma tabela que é definida pelo Ministério da Saúde e que qualquer discussão sobre os valores deve ser travada em nível federal. “Nós já fazíamos uma complementação, que não era pequena, apesar de acontecerem atrasos. É uma pena que o hospital tenha feito esta opção, mas talvez eles não precisem mais, pelo reconhecimento que alcançaram, trabalhar com pacientes do SUS. Mas podem perder um pouco em volume de atendimento”, comentou.
Em relação aos pacientes que eram atendidos via SUS no Hospital de Queimaduras, Marcelo Daher orienta que procurem o cais para marcar as consultas e dar sequência aos procedimentos. “Repito que vamos absorver a demanda, ainda que, em alguns casos, isso demande um pouco mais de tempo”, concluiu.
    

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