sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Médico inglês assume ter gravado iniciais em fígado de pacientes

Um médico inglês assumiu ter gravado suas iniciais no fígado de dois pacientes. Simon Brahall se declarou culpado nesta quarta-feira, 13, durante o julgamento de suas ações.

O médico usou um equipamento de cauterização para marcar as iniciais de seu nome no órgão dos pacientes em 2013. As marcas não danificaram o funcionamento do órgão e desapareceram sem nenhuma intervenção cirúrgica.

O caso foi descoberto quando outro médico teve de realizar uma segunda cirurgia em um paciente que Simon já havia operado. Ele foi afastado de suas funções no hospital Birmingham's Queen Elizabeth e poucos meses depois, enquanto acontecia uma investigação disciplinar interna, entregou sua carta de demissão.

Após o julgamento, Simon foi liberado mediante pagamento de fiança e terá sua sentença decretada no dia 12 de janeiro



Médico inglês assume ter gravado iniciais em fígado de pacientes - Nacional - Estado de Minas

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Empresário morre horas após doar um rim para salvar o irmão no interior de SP...


Eduardo Schiavoni
Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

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  • Arquivo pessoal
    Empresário Dorival Alves Júnior morreu após doar um rim para o irmão
    Empresário Dorival Alves Júnior morreu após doar um rim para o irmão
O empresário Dorival Alves Júnior, 45, morreu na tarde desta segunda-feira (20) na Santa Casa de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, menos de três horas depois de doar o rim direito para salvar a vida do irmão Benedito Luís Alves, 59. A morte foi provocada por uma hemorragia interna. O hospital informou que não acredita em erro médico.
Alves Junior morava com a mulher e dois filhos em Américo Brasiliense (a pouco mais de 70 km de Ribeirão) e, segundo relato de familiares, estava muito feliz com a possibilidade de ajudar o irmão, que era portador de uma doença renal crônica havia sete anos - um rim não funciona e o outro já estava parando. "Ele falava sempre que ia ter a chance de salvar o irmão", conta Elizangela Possato, cunhada do doador.
A mulher de Alves Junior, Fernanda Possato Alves, contou que o marido sabia que, sem o transplante, o irmão não conseguiria suportar a espera por um rim. "Ele falava que o irmão já estava esperando há sete anos, que não poderia suportar muito tempo mais. Quando deu que eles eram compatíveis, ele nem pensou em não ajudar. Ele queria muito, era o irmão mais velho dele, ambos eram muito ligados", disse. De acordo com amigos, ele mesmo havia sugerido fazer o teste de compatibilidade.
A Santa Casa informou que Benedito se recupera do procedimento e está sendo mantido inconsciente na UTI como parte do tratamento. Ele ainda não sabe da morte do irmão, segundo familiares.

O procedimento

Segundo a Santa Casa, o transplante "se deu com absoluto sucesso e sem intercorrências". Benedito deixou a cirurgia e foi para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), enquanto Alves Júnior foi para a sala de recuperação. Consciente, ele chegou a conversar com parentes e comemorou o sucesso da cirurgia.
"Conforme a anestesia foi passando, ele começou a reclamar de dor no abdômen. Mas chegou a dizer que estava feliz com a vida nova que tinha dado ao irmão", conta Elizangela.
Com o aumento da dor, os médicos foram chamados e Alves Junior, enviado de novo ao centro cirúrgico. Foi constatada hemorragia interna, que a equipe do hospital não conseguiu conter. "As informações obtidas junto à equipe médica responsável pela cirurgia dão conta de que o senhor Dorival Alves Junior apresentou complicações no pós-operatório, sendo atendido prontamente, evoluindo para óbito", disse a Santa Casa, em nota.
A instituição ressaltou que não havia nenhuma situação prévia que inviabilizasse o transplante e que não acredita em qualquer tipo de erro da equipe. "A Santa Casa ressalta que a equipe médica responsável pelo transplante renal é composta por especialistas de alta competência, cujo histórico soma mais de duas centenas de transplantes realizados", ressaltou..

Comoção

O corpo de Alves Junior foi velado na tarde de ontem em Américo Brasiliense, em um funeral repleto de amigos. O homem era dono de um pequeno supermercado na cidade e muito querido pelos vizinhos. O sepultamento ocorreu no Cemitério São Bento, em Araraquara. 
"Foi muito triste, mas, ao mesmo tempo, uma prova de amor. Que Deus o receba em seus braços. Deu sua vida em prol do irmão, jamais imaginaria que fosse perder a vida dele. Era um ser humano diferenciado", disse Augusta Bezerra dos Santos, que afirmou ser freguesa do supermercado do qual Alves Junior era dono. "Era sempre bem-humorado, falava com todos".
Daniela Moreira, cuidadora da mãe dos irmãos, também lamentou a morte de Alves Junior. "É um patrão de coração enorme, muito atencioso com a gente. Só posso desejar que o irmão dele aproveite muito o novo rim e que ele descanse em paz", disse.

A cada 5 minutos, 3 brasileiros morrem em hospitais por falhas..


Larissa Leiros Baroni
Do UOL, em São Paulo

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  • Giovanni Bello/Folhapress
Cerca de 829 brasileiros morrem diariamente em hospitais públicos e privados por falhas que poderiam ser evitadas, segundo o Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, realizado pelo IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) em parceria com a Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). O número equivale a três mortes a cada cinco minutos.
Esta é a segunda causa de morte mais comum no Brasil. Fica atrás apenas das doenças cardiovasculares, responsável pela morte de 950 brasileiros por dia, como estima a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Mas é bem maior do que os óbitos causados por câncer (de 480 a 520 mortes/dia), violência (164 mortes/dia) e acidentes de trânsito (129 mortes/dia). 
Em 2016, 302.610 brasileiros morreram em hospitais como consequência de um "evento adverso", que inclui erros de dosagem ou aplicação de medicamentos, uso incorreto de equipamentos, infecção hospitalar, entre outros. "Não significa, necessariamente, que houve um erro, negligência ou baixa qualidade, mas trata-se de incidente que poderia ter sido evitado", explicou Tania Grillo, professora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e uma das coordenadoras da pesquisa.

Sequelas

Além das mortes, os eventos adversos também podem gerar sequelas que comprometem o exercício das atividades da vida do paciente, causam sofrimento psíquico, além de elevar o custo assistencial. De acordo com o Anuário, dos 19,1 milhões de brasileiros internados em hospitais ao longo de 2016, 1,4 milhão foram "vítimas" de algumas dessas falhas.
As infecções hospitalares respondem por 14,7% das ocorrências em geral. "No caso dos óbitos, são as mais comuns, principalmente pelo seu grau de gravidade e pelo potencial de se transformarem em infecções sistêmicas", destaca Grillo, que destaca que a maior parte das falhas está ligada a causas não infeciosas (85,3%). Ainda assim a maioria delas produz dano ao paciente (71,7%).
As condições mais frequentes, mas que nem sempre levam ao óbito, são: lesão por pressão; infecção urinária associada ao uso de sonda vesical; infecção no local cirúrgico; fraturas ou lesões decorrentes de quedas ou traumatismos dentro do hospital; trombose venosa profunda ou embolia pulmonar; e, infecções relacionadas ao uso de cateter venoso central.
As principais vítimas dos chamados "eventos adversos" são os bebês --com menos de 28 dias de vida-- e os idosos acima dos 60 anos.
Problemas no atendimento de pacientes também aumentam o tempo de internação dos doentes em três vezes. Segundo o anuário, os eventos adversos custam R$ 10,9 bilhões por ano.
O Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil se baseou nas altas hospitalares de 133 hospitais, que prestam serviços a operadoras de saúde suplementar do Brasil que cobrem 7.685.748 dos beneficiários. Foram avaliadas 100% das altas hospitalares cadastradas no período de 1º de julho de 2016 a 30 de junho de 2017.

Problema de saúde pública

No mundo, de acordo com o documento, ocorrem anualmente 421 milhões de internações hospitalares e 42,7 milhões de eventos adversos, um problema de saúde pública reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
"Não existe sistema de saúde que seja infalível. Mesmo os mais avançados também sofrem com eventos adversos. A diferença é que, no caso brasileiro, apesar dos esforços, há pouca transparência sobre essas informações e, sem termos clareza sobre o tamanho do problema, fica muito difícil começar a enfrentá-lo", afirma Renato Couto, professor da UFMG e um dos responsáveis pelo Anuário.
Como acrescenta Grillo, o Brasil não tem uma fonte oficial que faz a coleta sistematizada desses dados. "Mas artigos científicos nos mostram que a situação no Brasil é grave e que precisa ser tratada como prioridade. As ocorrências são bem maiores do que em países de primeiro mundo e similares do que na Ibero-América", alerta ela.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os eventos adversos causam 400 mil óbitos por ano, o que representa 1.096 mortes por dia. Mas, ainda que o total de mortes por dia seja próximo da realidade brasileira, a a população norte americana é 55,6% maior do que a do Brasil.
"Está claro que esse não é um problema desse ou daquele hospital, mas de uma disfunção sistêmica", ressalta Couto, que, entre várias medidas, sugere um modelo de recompensa monetária para os hospitais com menos erros, além de um mecanismo de transparência com uma classificação das unidades hospitalares com base em parâmetros técnicos. "Para que possa servir como parâmetro de escolha para os pacientes."

Homem morre após 11 consultas médicas; mãe vê negligência: "ele só piorava"...

Lucas Borges Teixeira
Colaboração para o UOL
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  • Reprodução/Facebook
    Junior Carrion morreu após 11 consultas; ele não foi diagnosticado com pneumonia
    Junior Carrion morreu após 11 consultas; ele não foi diagnosticado com pneumonia
Um homem de 34 anos morreu após passar por 11 consultas e não ser diagnosticado com pneumonia, no interior de São Paulo, no começo de novembro. A família acusa hospitais de negligência médica no caso e o Conselho Regional de Medicina (CRM) diz que irá apurar as circunstâncias da morte de Junior César Pinheiro Carrion.
Ele começou a se sentir mal no final do mês de setembro. Acompanhado da mãe, Dalva, Carrion foi à Santa Casa de Guará, que fica a cerca de 430 km de São Paulo, onde foi diagnosticado com um resfriado.
Como o filho não melhorou após a primeira consulta, Dalva conta que o levou no dia 9 de outubro para o Hospital e Maternidade São Jorge, em Ituverava, cidade vizinha. "Ele estava com falta de ar e tossia muito", lembra a mãe. De acordo com a empregada doméstica, lá, a médica afirmou que ele estava com a gripe H1N1.
"Ela disse que não precisava de exames por causa do seu olho clínico", conta a mãe em entrevista ao UOL. Após algum tempo sem melhora, ela voltou a levá-lo, com febre, ao hospital de Ituverava. "Fizeram exames, que indicaram anemia", relata.
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Junior e Dalva voltaram mais duas vezes a mesma unidade médica, onde ela teve seus pedidos de internação para acompanhamento recusados. "Ele estava respirando bem mal, chegaram até a passar remédio para ansiedade".
Dalva decidiu, então, voltar à Santa Casa de Guará, no final de outubro, onde o filho fez tratamento de inalação. No dia 2 de novembro, porém, mãe e filho já precisaram retornar ao hospital., quando, segundo ela, a internação de Junior foi negada por "ser uma gripe e não caso de urgência".
Reprodução/Facebook
Mãe de Junior Carrion acusa os médicos de negligência; caso é investigado pelo Conselho
No dia seguinte, Carrion acordou mais uma vez com falta de ar. "Fui desesperada à Santa Casa. Um outro médico atendeu e decidiu dar encaminhamento: colocou soro, oxigênio. Mas, quando voltei de casa para pegar umas frutas, já havia uma maca esperando por ele", conta Dalva.
De acordo com a mãe, o hospital alegou que o paciente precisava com urgência de um neurologista, que a unidade não tinha, e deveria ser encaminhado ou para Ituverava ou para a Santa Casa de São Joaquim da Barra, cidade também próxima de Guará. Ela escolheu a segunda opção.
"Eles o colocaram em uma ambulância muito simples. Ele estava com falta de ar e estava muito quente, não tinha nem ventilador", acusa Dalva. "Ele falou para mim que não ia conseguir. Quando chegamos lá, desci correndo, mas não teve jeito."
Junior César morreu no local. Segundo a mãe, só em São Joaquim da Barra o filho foi diagnosticado com broncopneumonia bilateral, o que consta no atestado de óbito. "Ele tinha mais de dois litros de água no pulmão", conta Dalva. "A negligência foi tão grande que eles já chamaram a polícia para registrar as péssimas condições em que ele foi enviado ao hospital."
Além do boletim de ocorrência registrado em São Joaquim da Barra, o corpo de Carrion foi enviado ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO) de Ribeirão Preto.
Depois de 11 passagens por diferentes médicos em diferentes hospitais, "fora as idas para inalação", Dalva acusa os profissionais de saúde de negligência e diz que pretende acionar os órgãos competentes pelo tratamento que seu filho sofreu.
"Foi um descaso total passar por tantos médicos e não descobrirem uma pneumonia", protesta a mãe. "Por que a Santa Casa [de Guará] não transferiu no dia que eu pedi? Eu vi que ele só estava piorando."
"Ele era meu único filho, minha vida, só morávamos eu e ele", lamenta a mãe.
Caso em apuração
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) afirmou ao UOL por meio de nota que abrirá uma investigação para apurar as acusações de negligência da Santa Casa de Guará, que pode durar entre seis meses e dois anos.
"Se, durante a fase de sindicância forem constatados indícios de infração ética, que consiste no descumprimento de algum artigo do Código de Ética Médica, passa-se à segunda fase: a instauração do processo ético-profissional", explica o órgão. Os médicos passam por julgamento e, caso sejam considerados culpados, as penas podem ir de advertência confidencial em aviso reservado à cassação do exercício profissional.
Procurada pelo UOL, a Santa Casa de Guará não respondeu à solicitação de entrevista até o fechamento da matéria. O hospital abriu uma sindicância para apurar o ocorrido.
Em nota enviada ao UOL, a Santa Casa de São Joaquim da Barra afirma que Junior chegou ao local "sem encaminhamento formal, sem aviso prévio da situação e sem o acompanhamento médico que o caso requeria, apresentando instabilidade hemodinâmica (hipotenso, taquicárdico, respiração agônica e saturação de oxigênio)".
"[O paciente] foi atendido em caráter de emergência sendo enviado diretamente para sala apropriada e, apesar de todos os esforços e tratamento instituídos, evoluiu rapidamente para parada cardiorrespiratória", conclui a nota.
Ao UOL, a administração do Hospital e Maternidade São Jorge afirmou ainda não estar a par do caso e disse que irá consultar a médica responsável pelas consultas para averiguação.
A reportagem procurou o Serviço de Verificação de Óbito de Ribeirão Preto, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Médico cobra Latam por atendimento em voo e é cobrado pela rede por atitude mercenári

Empresa lembrou que o socorro foi prestado de maneira voluntária e que não realiza qualquer tipo de pagamento.
Da Redação
Mais uma vez a ética na medicina vira tema de discussão nas redes sociais. Um médico que voava de férias pela companhia aérea Latam, em março deste ano, prestou socorro a um outro passageiro que estava com suspeita de infarto.
Até aí, tudo ok. Faz parte do juramento de Hipócrates, que todo médico deve pensar na saúde do próximo em primeiro lugar. Acontece que meses depois, o mesmo médico cobrou a empresa pelos “serviços”. “Eu adoro voar Latam, mas estou esperando até hoje o retorno sobre o atendimento médico que prestei no dia 01/03/17 no vôo de Miami – Guarulhos. Deixei meu contato com a aeromoça e aguardando os meus honorários de atendimento”, questionou o médico.
“Olá George, agradecemos o atendimento médico a bordo, no entanto, aproveitamos para esclarecer que este é feito voluntariamente, portanto, não realizamos qualquer tipo de pagamento. Permanecemos à disposição”, respondeu a Latam lembrando de seu juramento.
A discussão ainda teve uma tréplica. “Claro, descer o avião pra atender um possível infarto nem dá prejuízo mesmo. Ainda bem que eu diagnostiquei e tratei como parte da minha profissão. Mas a consideração em tratar bem um passageiro de férias que faz um trabalho especializado e não tem obrigação de se voluntariar deveria ser revista pela companhia. Repensem o fato”, ironizou o médico.
Este questionamento despertou reações na internet. “Putz, e ainda paga este mico em rede nacional”, comentou um usuário. “Graças a Deus não sou médica e nem meus filhos optaram pela profissão. Senão estaria muito envergonhada”, lamentou outra internauta. “Afinal de contas, tudo o que eles querem não é ajudar ao próximo… (ou entender e corrigir falhas do funcionamento do organismo humano…)… eles querem é dinheiro, apenas isso”, ironizou outro.
Acompanhe o diálogo e a reação das redes:
Juramento de Hipócrates
Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da humanidade. Darei aos meus mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A saúde do meu doente será a minha primeira preocupação. Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver confiado. Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica. Os meus colegas serão meus irmãos. Não permitirei que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu doente. Guardarei respeito absoluto pela vida humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos médicos contra as leis da humanidade.
Faço estas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra.
Foto: Latam/ Divulgação

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

SAÚDE E ODONTO Vítima de erro médico tem órgão retirado no lugar de cirurgia de hérnia

SAÚDE E ODONTO

Vítima de erro médico tem órgão retirado no lugar de cirurgia de hérnia

A empregada doméstica Maria José Nascimento entrou com ação contra o município de Barueri por ter tido a vesícula retirada sem o seu consentimento
A cada três minutos, aproximadamente, dois brasileiros morrem por consequência de erros médicos. Outros têm uma infinidade de sequelas irreparáveis. A empregada doméstica Maria José Nascimento está entre essas estatísticas. Ao dar entrada no Hospital Municipal de Barueri Dr. Francisco Moran para uma cirurgia de hérnia lombar, a brasileira foi direcionada a lista de operações de um programa da prefeitura, o Mutirão da Vesícula. Apesar de internada especificamente para uma cirurgia da hérnia, ela teve sua vesícula retirada e agora entrou com uma ação contra o município por erro médico.
Apesar dos números assustadores, essa é a realidade. Erros facilmente evitáveis andam causando mais óbitos do que doenças cardíacas, ou mesmo o câncer. Os dados são de um estudo apresentado no ano passado (2016) pelo Seminário Internacional Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde, realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) junto com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar. Em 2015, erros e falhas acarretaram em 434 mil óbitos, quase mil mortes por dia.
A negligência começou pelo atendimento. Em maio de 2013, a senhora Maria procurou o ambulatório do hospital réu com queixa de fortes dores. Logo na ficha de entrada, na data do documento comprobatório, há o indicativo de impressão do documento três dias antes do ocorrido (fato cronologicamente impossível). Somente em setembro é que foi diagnosticado que Maria sofria de hérnia, uma demora de meses para um diagnóstico simples, e que prolongou o seu sofrimento.
Na época dos fatos, a gestão do hospital era realizada pela Pró-Saúde – Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, associação civil de direito privado sem fins lucrativos, beneficente, filantrópica, com sede na Lapa, em São Paulo. O contrato foi feito por meio do Contrato de Gestão 160/2013. Os níveis de insatisfação com a gestão do Hospital é fato notório. Os então gestores são nacionalmente investigados. O Ministério Público de diversos estados e o Poder Judiciário dos mesmos, assim como o Tribunal de Contas da União, estão nas investigações, já que a Pro Saúde foi citada em CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado Federal, a “CPI DAS ONG’s”.
Somente em janeiro do ano seguinte, 2014, a paciente foi internada para a cirurgia de hérnia devido ao quadro de urgência. Porém, Maria foi submetida à cirurgia na vesícula (não na hérnia) sem o seu consentimento. O protocolo médico não foi obedecido e o documento com informações e autorização referentes à cirurgia estavam em branco, sem dados ou a assinatura da paciente. Além disso, após a operação ela nem mesmo foi informada sobre o diagnóstico e os resultados. Mais um documento obrigatório em branco, sem a atenção de explica-la sobre os cuidados pós-operatórios.
Nesse caso, a negligência foi ainda mais grave. O médico, mesmo sem o consentimento da paciente, assinou um documento em branco. “O documento em branco com a assinatura do médico é uma prova que está além da paciência de qualquer paciente”, afirma Nacir Sales, advogado de Maria. O resultado da cirurgia? A retirada de sua vesícula. Por outro lado, nada foi feito a respeito da hérnia, motivo da internação.
A cirurgia não conhecida nem consentida prolongou o sofrimento de Maria e o próprio atendimento já demonstra profundo desrespeito ao protocolo oficial de atendimento. O prolongado sofrimento obrigou ao consumo de analgésicos e diminuiu a sua condição para o trabalho, prejudicando irremediavelmente a sua qualidade de vida.
O dever de reparar dano, material e moral, decorre do Código Civil, em seu artigo 927. “O patrimônio civil da Autora necessita ser reparado. A liberdade, a segurança, a livre expressão da sua vontade, foi violada”, explica Sales. A empregada doméstica só veio a saber que havia sido submetida a uma colecistectomia muito tempo depois, após continuar com a dor que a levara ao hospital em primeiro lugar. Três dias depois da intervenção cirúrgica, Maria foi novamente internada para realizar a cirurgia de hérnia lombar, enfim resolvendo seu problema de saúde.
A proximidade das cirurgias fez com que ela desconfiasse de haver algo de errado e foi buscar esclarecimento. Ela só foi atendida 20 dias depois do ocorrido e, finalmente ficou sabendo de todos os riscos a que se submeteu sem seu consentimento. A negativa de acesso de pacientes aos prontuários médicos, não é uma novidade em hospitais administrados pele mesmo gestor. “A sonegação da informação impede o conhecimento dos ilícitos e dificulta a tutela dos direitos dos cidadãos lesados”, relata Sales.
Uma simples consulta na internet, no Google, demonstra que a sonegação da informação é uma politica já adotada pelo gestão investigada e combatida por autoridades de diversos estados. “O que consigo ler nos formulários não preenchidos é o interesse de não registrar, não documentar, o que está sendo feito. Em uma palavra: ocultar. Já no documento assinado em branco, leio também a palavra descaso”, diz o advogado de Maria.
No Mutirão da Catarata, também realizado pelo Hospital Municipal de Barueri, 12 pessoas ficaram cegas. O ocorrido se deu em 2014, na época das cirurgias em “escala industrial”. A quantidade de vítimas do Mutirão da Catarata torna questionável a prática dos “mutirões”. Isso mostra que os problemas envolvendo o Hospital não são novidade ou isolados.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo decidiu que os Municípios são responsáveis pelas demandas decorrentes de danos havidos nos hospitais municipais e assim a ação continua a ser movida, ainda sem previsão de solução para o reparo dos danos causados, contra o município.