sábado, 3 de setembro de 2016




PASQUALE CIPRO NETOVi o teu (ou 'o seu?') primo

 Publicado 14/07/2016 - 22h31 - Atualizado 14/07/2016 - 22h33
Por Pasquale Cipro Neto

Na língua do dia a dia (que empregamos entre amigos, pessoas conhecidas, familiares), é comum o emprego de “teu” e “seu” em situações praticamente idênticas. Quando conversamos com um amigo, por exemplo, ora dizemos “Esta caneta é tua?”, ora dizemos “Esta caneta é sua?”; ora dizemos “Vi o teu primo no cinema”, ora dizemos “Vi o seu primo no cinema”.
No padrão formal da língua e nos textos literários clássicos, a história é um pouco diferente: quando se usa “tu”, usa-se “teu” (ou “tua”, “teus”, “tuas”); quando se usa “você”, “senhor” ou “senhora”, usa-se “seu” (ou “sua”, “seus”, “suas”).
Assim, numa frase como “Onde (tu) costumas passear com a tua namorada?”, por exemplo, verifica-se o emprego dos pronomes “tu” e “tua”, o que está de acordo com o que predomina no padrão formal da língua, nos textos clássicos e também na atual língua oral de Portugal. Nesse padrão linguístico, caso se trocasse “tu” por “você”, “senhor” ou “senhora”, seria necessário trocar “tua” por “sua”: “Onde você costuma passear com a sua namorada?”; “Onde a senhora costuma passear com as suas amigas?”.
Concursos públicos e vestibulares de escolas públicas importantes volta e meia pedem ao candidato que passe certas frases do padrão coloquial, em que ocorre o emprego simultâneo de “você” e “teu”, por exemplo, para o formal ou culto, em que se torna necessário fazer a harmonização que já mencionei.
E no mundo real? Como fica isso? Pelo que se vê no uso efetivo da língua no Brasil, essas recomendações valem mesmo para o padrão formal da língua; no uso diário, não agimos com esse rigor. Na língua oral de muitas regiões do Brasil, usa-se o pronome “teu” associado ao pronome “você”, em frases como “Quando você vai ver o teu irmão?” ou “Você já fez a tua parte?”.
Num concurso público, o candidato deverá alterar a primeira frase para “Quando tu vais ver o teu irmão?” ou para “Quando você vai ver o seu irmão?”. A segunda frase seria alterada para “Você já fez a sua parte?” ou para “Tu já fizeste a tua parte?”. O caro leitor certamente sabe que na língua viva do Brasil essas construções não ocorrem.
Moral da história: “teu” e “seu” são pronomes que indicam posse, ou seja, são possessivos. Os dois se referem ao que é possuído pela pessoa com a qual conversamos. No padrão formal da língua, nos textos literários clássicos (brasileiros e portugueses) e mesmo em textos mais recentes (vejam-se inúmeros poemas de Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Caetano Veloso, Chico Buarque, Manuel Bandeira, entre outros) “teu” se usa com “tu”, enquanto “seu” se usa com “você”, “senhor” ou “senhora”.
Por fim, é bom lembrar também que, antes dos pronomes possessivos, o artigo é optativo: pode-se dizer “Gosto muitos dos teus primos” ou “Gosto muito de teus primos”; “Os seus argumentos não me convencem” ou “Seus argumentos não me convencem”.

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Escrito por:
Pasquale Cipro Neto

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