terça-feira, 6 de setembro de 2016



31
  A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) divulgaram nesta segunda a avaliação do uso de álcool e drogas entre médicos, que traça o perfil do profissional dependente químico. “Já se sabia que a situação existia, o que faltavam eram informações mais precisas sobre os médicos que enfrentam o problema”, disse o coordenador do estudo, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp.
Foram avaliados 206 médicos dependentes químicos que procuraram espontaneamente algum tipo de tratamento nos últimos cinco anos. A maioria dos profissionais que passa pelo problema tem idade média de 39 anos, é do sexo masculino (85%), casado (80%) e já teve dificuldades no casamento (70%). Os clínicos gerais, anestesistas e cirurgiões são os mais afetados pela dependência química.
Para Laranjeira, o estresse do trabalho e o fácil acesso a medicamentos são fatores que favorecem o problema entre médicos. “O álcool é a droga mais usada, seguida da cocaína. Depois, vêm os calmantes (benzodiazepínicos), a maconha e os analgésicos potentes (opiáceos). O uso destes dois tipos de medicamentos é uma característica da dependência entre os médicos, que não aparece em outros grupos”, disse.
Segundo a presidente do Cremesp, Regina Parizi, é preciso apresentar alternativas para o profissional dependente químico. “Pessoas que sofrem qualquer tipo de transtorno mental não devem ser isoladas durante o tratamento. Por isso, a idéia é oferecer uma rede de apoio e adaptação ao dependente e não afastá-lo simplesmente de suas funções.”
Atualmente, o Cremesp abre um processo administrativo nos casos de notificação de distúrbios mentais. O profissional passa então pela avaliação de uma junta médica e pode sofrer até interdição. “Queremos que o médico possa receber ajuda antes de chegar ao ponto do afastamento ser necessário. Estudamos uma proposta neste sentido”, disse Regina Parizi. Existem 85 processos administrativos em andamento no Cremesp por questões ligadas à saúde mental.
Laranjeira também ressaltou a importância da criação de uma rede de auxílio aos médicos com dependência química. “É necessário repensar o sistema de trabalho destes profissionais que enfrentam uma rotina muito pesada, principalmente na época da residência”, disse.
Para Laranjeira, os médicos precisam receber atenção especial. “O médico necessita de ajuda sistematizada, pois tem maior resistência a procurar auxílio profissional. É preciso facilitar o acesso a tratamentos adequados e acabar com o preconceito na hora de buscar ajuda”, disse.

Comentários


Nenhum comentário:

Postar um comentário