quinta-feira, 31 de março de 2016

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Morte de paciente em espera de posto de saúde causa revolta em Curitiba

Rafael Moro Martins
Do UOL, em Curitiba 
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A morte de homem de 57 anos, que, segundo a própria prefeitura, esperou por cerca de quatro horas para ser atendido, causou revolta entre pacientes da unidade de saúde 24 horas do Pinheirinho, zona sul de Curitiba, nesta quinta-feira (18). Vilmar Cardozo sofreu uma parada cardiorrespiratória após ser medicado e colocado em observação. Para testemunhas, houve negligência.
"Eu já estava aqui quando ele chegou ontem pela manhã. O levaram para a sala de soro, a enfermeira riu e disse que ele estava fingindo. Por volta das 16h30, ele piorou. Daí o trouxeram para a emergência, mas ele já chegou morto", disse ao UOL a dona-de-casa Jocélia de Lima, 38 anos, nesta sexta (19).
"Quando um dos filhos [do paciente morto] chegou e recebeu a notícia, desmaiou, teve convulsão na porta do posto. Um médico olhou, deu risada e não o atendeu. Levou uns cinco minutos para que ele fosse atendido por uma equipe do Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] , e não do posto", disse Jocélia.
"Aí o pessoal se revoltou, teve quebra-quebra", relatou. Ao menos uma porta da sala de emergência foi destruída por pacientes e por familiares que aguardavam por atendimento. Nesta sexta pela manhã, havia seis guardas municipais na unidade, número superior ao habitual.

Cama

Jocélia, que vive no Tatuquara, um dos bairros mais pobres da capital, conversou com a reportagem por volta das 12h, quando já estava havia mais de 24 horas na unidade 24 horas do Pinheirinho.
"Estou esperando vaga em outro hospital para minha mãe [que sofre de enfisema pulmonar]. Ela ficou sentada das 15h às 23h, numa cadeira, com oxigênio, esperando uma cama ser liberada. Depois que o secretário [municipal da Saúde, Adriano Massuda] chegou [após o tumulto causado pela morte do paciente], falei com ele e ele arrumou uma cama para ela", disse a dona-de-casa.
"Isso aqui não é emergência, é um açougue. Morre gente todo dia. Há funcionários que nos tratam bem, mas há médicos e enfermeiras que nos olham com nojo", desabafou.

Outro lado

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde informou que "o paciente teve atendimento médico às 9h43, na Unidade de Saúde Fanny-Lindoia, e foi encaminhado ao Pinheirinho, onde chegou às 10h45, com quadro de diarreia e sinais de cansaço".
"Passou pela triagem e foi atendido às 13h27. Foi medicado, levado para a sala de observação e passou por exames. Às 15h15 foi reavaliado pela médica que o atendeu, que passou orientações à equipe e à família, conforme está registrado no prontuário", prossegue o texto.
"Às 16h55, o quadro do paciente se agravou, com evolução aguda para parada cardiorrespiratória. Foram prontamente tomadas as medidas de reanimação. Por 45 minutos a equipe aplicou todas as manobras do protocolo de animação. O paciente morreu às 17h40", conclui.

Investigação

Também na nota, a Secretaria Municipal da Saúde informa que abriu, "na manhã desta sexta-feira (19), uma investigação sobre o atendimento ao paciente Vilmar Cardozo, realizado na quinta-feira (18), na Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas do Pinheirinho. A sindicância será conduzida pelo médico João Carlos Gonçalves Baracho, com prazo de 30 dias para conclusão".
Baracho, presidente da AMP (Associação Médica do Paraná), liderou, nas últimas semanas, manifestações contra a vinda de médicos estrangeiros ao Brasil e a obrigatoriedade da prestação de dois anos de serviços ao SUS (Sistema Único de Saúde) por recém-formados.
Segundo a nota, também participarão o médico Gerson Zafalon, do Conselho Federal de Medicina, e a enfermeira Eliana Amaral Mendes, coordenadora administrativa do Sistema de Urgência e Emergência de Curitiba.
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