quinta-feira, 31 de março de 2016


CIDADES

Família de mulher com infecção grave acusa médicos de negligência

08/03/2016 às 06:00:00 | Atualizado 08/03/2016 às 07:08:33 
Paula Weidlich
 
Marido dispara: “Nádimi piorou pelo mau atendimento na UPA de Pinhais”. Foto: Giuliano Gomes
A família da doméstica Nádimi Cordeiro Alegre, 33 anos, busca respostas que expliquem por que um apêndice rompido não foi detectado pelos médicos, mesmo após vários atendimentos em unidades de saúde diferentes. Pela falta de diagnóstico correto, apontada pelos familiares como um erro dos médicos, seu quadro evoluiu pra uma grave infecção, que a deixou à beira da morte, internada até o momento em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O marido, o auxiliar técnico Luís Alberto Ramos, 35, conta que Nádimi foi submetida a uma laqueadura no dia 3 de fevereiro e pouco mais de duas semanas depois de receber alta, sem ter nenhuma complicação, começou a passar mal e a sentir muitas dores. Segundo ele, no dia 19 do mês passado, ela foi até a Unidade de Pronto Atendimento de Pinhais (UPA), onde foi atendida, medicada e liberada, situação que se repetiu mais quatro vezes até o dia 25, data em que os médicos perceberam a gravidade do caso e a transferiram pro Hospital Cajuru.
Além da UPA de Pinhais, Nádimi passou pelo Hospital e Maternidade Mater Dei, em Curitiba, onde fez a cirurgia de esterilização. Lá, também foi avaliada e liberada pelos médicos. “Minha esposa sofreu muito e continua na UTI. Ainda deve passar por um longo período de recuperação. Está com infecção no abdômen e precisou fazer várias cirurgias desde que chegou ao Hospital Cajuru, onde ficou durante quatro dias em coma induzido, em estado grave”, disse Luís.
Ele afirma que o erro começou na UPA. “Acredito que problema dela, a apendicite, piorou pelo mau atendimento que recebeu na UPA de Pinhais. Lá só recebeu soro, remédios e foi mandada para casa. Se ela tivesse passado por exames ou por uma melhor avaliação, feita por médicos mais experientes, isso teria sido evitado. Tive que pedir férias antecipadas no emprego para cuidar dela, nossa vida virou de cabeça pra baixo. Mas agradeço por ela estar viva. Agora, só espero que isso não aconteça com outras pessoas, que infelizmente têm que utilizar os péssimos serviços de saúde que temos hoje”, completou.
Sintomas de outras doenças
Em nota, a Secretaria de Saúde de Pinhais informou que há registros de atendimentos da paciente na UPA Pinhais nos dias 19, 20, 23, 25 e 26 de fevereiro. Nestas datas, ela foi avaliada pelos médicos, que detectaram que ela não tinha febre e que os sintomas se confundiam com outras doenças. Segundo a pasta, duas vezes foi ofertado que ela ficasse internada pra investigação, mas Nádimi só aceitou após ir ao Hospital Mater Dei, onde fez a laqueadura.
No dia 25, de volta à UPA, os médicos a diagnosticaram com abdômen agudo inflamatório e a internaram. No dia 26, ela piorou e foi encaminhada pra emergência, onde realizou exames de raios-X e ecografia, transferida horas depois ao Hospital Cajuru. Segundo a secretaria, a UPA faz mais de 10 mil atendimentos ao mês e não tem registro deste tipo de reclamação.
Já o Hospital e Maternidade Mater Dei afirmou que a paciente deu entrada na instituição em 3 de fevereiro, pra fazer laqueadura e teve alta no dia seguinte, passando bem. No dia 25 do mesmo mês, ela voltou à maternidade, com queixa de dor no abdômen superior e passou por exame clínico, que identificou que a dor não estava relacionada à laqueadura. Durante o atendimento, ela foi orientada pelo médico plantonista a ir para um hospital geral, com recursos pra melhor investigação do caso. A Mater Dei cita que entrou em contato com outros hospitais para tentar sua transferência imediata, mas não obteve êxito, e direcionou a paciente para a UPA de origem.
 
Secretaria de Saúde de Pinhais diz que tentou internar paciente duas vezes. Foto: Giuliano Gomes
Erros e conflitos
O Ministério Público investiga outro caso suspeito de falha médica. No dia 12 de fevereiro, Dirce Vianna, 75 anos, teria sido vítima de um erro no Hospital Erasto Gaertner, após ter seu rim direito retirado. Segundo os familiares, os médicos retiraram o órgão errado, já que o esquerdo, que estava afetado pelo câncer, é que deveria ter sido extraído. No entanto, o hospital alegou que os dois rins da idosa estavam comprometidos. Um novo procedimento teve que ser feito nos dias seguintes e a paciente recebeu alta no dia 26.
Segundo o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), casos como este são alvo de diversas sindicâncias realizadas durante o ano. Grande parte das denúncias se refere a conflitos na relação médico-paciente.
Situações que não representam riscos à integridade física ou à vida, mas que dizem respeito à atenção que o paciente ou seu familiar esperavam do médico. No Estado atuam 23,4 mil profissionais de medicina, que realizam cerca de 50 mil procedimentos por dia. Em média, o órgão recebe de duas a três denúncias por dia.
Segundo o presidente do CRM-PR Luiz Ernesto Pujol, a observância do Código de Ética Médica é o ponto primordial para o exercício da medicina. “Fatores externos, como de infraestrutura e más condições de trabalho interferem no desempenho do profissional, suscitando até mesmo denúncias decorrentes dessa precariedade que, não raras vezes, resulta em reação de violência contra o médico e os demais profissionais de saúde. Mas o conselho, como órgão fiscalizador dos serviços médicos, atua de modo a tentar assegurar o acesso pela população a serviços de qualidade e segurança”.

Números do problema

Atuação do CRM-PR em 2015:
- 2 a 3 denúncias recebidas diariamente
- 1.188 sindicânciasm apreciadas
- 794 sindicâncias arquivadas
- 263 julgamentos em primeira instância, envolvendo 279 médicos: 102 foram condenados, em situações normalmente caracterizadas como negligência, imprudência ou imperícia médica
- 5 são as formas de punição aos médicos envolvidos em erros médicos confirmados. Dos 102 médicos condenados no ano passado, 28 receberam advertência em aviso reservado, 31 censura confidencial, 33 censura pública, 5 sofreram suspensão do exercício profissional por até 30 dias e outros 5 tiveram seus registros cassados
Denúncias ao CRM-PR:
2008 - 607 sindicâncias
2009 - 580 sindicâncias
2010 - 701 sindicâncias
2011 - 467 sindicâncias
2012 - 561 sindicâncias
2013 - 972 sindicâncias
2014 - 802 sindicâncias
2015 - 623 sindicâncias
Serviço:
Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR)
Rua Victório Viezzer, 84, 1º andar, Vista Alegre- Curitiba
(41) 3240-4000 / www.crmpr.org.br / www.facebook.com/crmpr

Passo a passo pra denunciar

1. Denúncias ao CRM-PR contra um médico, hospital ou instituição prestadora de serviços médicos, devem ser feitas por escrito, assinadas e encaminhadas pessoalmente à sede ou Delegacia Regional do Conselho de Medicina.
2. Toda denúncia deve conter a identificação completa do denunciante (não pode ser anônima) e se houver, documentos referentes ao caso.
3. Muitas denúncias chegam por meio das Comissões de Ética Médica dos hospitais ou pelos diretores clínicos dos hospitais. Elas também podem vir de delegados de polícia, juízes ou promotores. Ou o próprio CRM pode abrir uma sindicância.
4. Após o recebimento de uma denúncia, é aberta uma sindicância. O CRM faz um pedido de esclarecimento a ambas as partes (denunciante e denunciado). Depois é feita uma avaliação de um conselheiro ou delegado da Regional, que se responsabiliza e faz um relatório.
5. O documento é analisado por uma Câmara de Ética e Julgamento, que decide se é aberto um processo ético-profissional contra o denunciado - em caso de infrações éticas identificadas - ou se a situação é arquivada. Em caso de arquivamento, cabe recurso da sindicância ao Conselho Federal.
6. Quando o processo ético-profissional é aberto, as testemunhas são ouvidas, o médico exercita seu direito de defesa e, após instruído, vai a julgamento, onde o Conselho decide se ele é culpado ou inocente, podendo ser aplicada uma das penas éticas previstas em Lei, que são: A (advertência confidencial, em aviso reservado); B (censura confidencial, em aviso reservado); C (censura pública em publicação oficial); D (suspensão do exercício profissional até 30 dias) ou E (cassação do exercício profissional).
7. De acordo com o Código de Processo Ético-Profissional, se o médico receber alguma pena com votação divergente dos integrantes da Câmara de Ética e Julgamento, ele tem direito de recorrer ao CRM-PR. Se a condenação for unânime ou mantida pelo Pleno, pode-se então recorrer ao CFM. Em caso de cassação, o processo é obrigatoriamente reapreciado pelo CFM.
8. O CRM-PR julga se o médico infringiu o Código de Ética Médica, agindo com imperícia, imprudência ou negligência, não existindo nos Conselhos qualquer acerto financeiro.
Fonte: Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR)

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