Médicos do Recife buscam maiores esclarecimentos sobre a atuação da CPI do Erro Médico, instalada no último dia 23 de abril, em Brasília. Eles acreditam haver uma absurda inversão de valores ao atribuir o falecimento de pacientes nos hospitais do País aos profissionais de saúde. Para eles, usar o termo “Erro Médico” pode causar um entendimento equivocado da real situação da saúde no Brasil. A Comissão é presidida pelo senador Magno Malta (PR-ES) e tem como relator o senador Humberto Costa (PT-PE).
“Profissionais de saúde existem para salvar vidas. Quantas pessoas não são salvas ou curadas diariamente no Brasil e no mundo, todos os dias, desde que a humanidade e a profissão existem? Basta visualizar os dados do Ministério da Saúde, relatórios dos planos de saúde ou documentos da OMS que eles trarão estampados o trabalho e o valor dos médicos e outros profissionais do setor. É assim que todas as sociedades, em todas as regiões do planeta, agem e reconhecem os profissionais que preparam”, argumenta o médico oftalmologista Antônio Jordão.
Ele, juntamente a psiquiatria Suzana Azoubel e médicos de outras especialidades, questiona o modo como a CPI do Erro Médico e Violação dos Direitos Humanos vem sendo formulada. A Comissão surgiu a partir da morte de sete pessoas que estavam na UTI do Hospital Evangélico de Curitiba, sob a chefia da ex-médica Virgínia Soares de Souza, acusada de homicídio duplamente qualificado e formação de quadrilha com mais sete médicos e enfermeiros
“O que ocorreu em Curitiba foi qualificado pelas autoridades policiais como homicídio, não erro médico. Neste caso, poder-se-ia falar em um conluio de sociopatas. Quando colocam a pecha de erro médico, as pessoas são induzidas a pensar de modo distorcido. O médico vai passar a ser o Judas nacional”, afirma Suzana Azoubel que defende melhores condições de trabalho e capacitação para os profissionais de saúde.
Segundo os profissionais de saúde, o que é verificado é que na prática existe uma desqualificação da Psiquiatria. Existe a não valorização do psiquiatra, o não entendimento de que a psiquiatria também se nutre das neurociências e que só o psiquiatra bem formado e bem treinado pode oferecer atendimento com a qualidade que a população merece. Para eles, assim como a abertura indiscriminada de faculdades de medicina é preocupante, também, a abertura de Programas de Residência Médica em Psiquiatria feitas a “toque de caixa” a fim de diminuir a grande demanda de psiquiatras nos Caps.
Os médicos Antônio Jordão e Suzana Azoubel convidam outros médicos de Pernambuco a participarem deste debate e a formularem uma opinião sobre o assunto. Além das mortes ocorridas no hospital em Curitiba, em 150 dias, a CPI do Erro Médico deve realizar audiências públicas para analisar recentes casos de erros médicos que chocaram a opinião pública como a ilegalidade e falhas na prestação de serviços de saúde pelo Hospital Santa Luzia, em Brasília, que levaram a óbito o adolescente Marcelo Dino Fonseca de Castro; a suspeita de que outro médico tenha provocado a morte de seis pessoas (quatro em Goiás e duas no Distrito Federal), e outra denúncia de negligência dos hospitais Santa Lúcia e Santa Luzia que negaram atendimento, por falta de cheque caução, ao servidor público Duvanier Paiva Ferreira, que procurou atendimento após sofrer um infarto agudo no miocárdio