sábado, 17 de junho de 2017

Morre na capital a criança que ficou 8 dias aguardando vaga em hospital

Primeiras informações dão conta de uma pneumonia e infecções; pais estão desolados

Teve uma passagem muito breve - 06/03/2017 às 07h01
Por Rômulo Rocha – De Brasília
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A CRIANÇA MORREU. 
PONTO NÃO, RETICÊNCIAS...
O QUE TINHA KALLEBE MENDES?
- Enquanto muitos estavam no Carnaval, uma batalha - não muito silenciosa - era travada para salvar a vida de uma criança de apenas 9 meses. Infelizmente não foi possível.
- Há forças que são maiores, claro, mas o que é preciso ficar esclarecido, é se o tempo que a criança de 9 meses ficou a espera de uma vaga no Hospital Infantil contribuiu para agravar o seu quadro e culminar com a sua morte. É preciso haver uma posição oficial sobre o que levou Kallebe Ribeiro Mendes a falecer
- Na Quarta-Feira de Cinzas, após repercussão da publicação de matéria veiculada pelo 180, a criança que estava padecendo sem o devido atendimento no Hospital do Satélite foi transferida para o Hospital Infantil
- Pais chegaram a agradecer a publicação. A eles foi pedido que mantivessem os jornalistas do 180informados. Na última sexta-feira escreveram para o titular do Blog Bastidores: “passando para dizer que o Kallebe está na UTI”. Era o declínio.
_AINDA: A FRASE MARCANTE...
“Eu já implorei”, disse mãe, desesperada, ao contar que ela e seu esposo suplicaram por uma vaga no Hospital Infantil. Declaração figurou na primeira matéria sobre o caso
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O ESTADO FOI NEGLIGENTE?
Kallebe Ribeiro Mendes, de apenas 9 meses, veio a óbito por volta das 18 horas deste domingo (5). A criança estava no Hospital Infantil Lucídio Portella, após esperar por uma vaga por cerca de 8 longos dias. “Eu já implorei”, chegou a dizer a mãe ao 180 quando ainda estava no Hospital do Satélite. Kallebe Mendes era filho da dona de casa Flávia Ribeiro e do taxista Wando Mendes.
Os pais de Kallebe Mendes passaram por uma verdadeira via-crucis para salvar o filho no período carnavalesco. Tudo começou quando os pais notaram que a criança, em meio a crises, passou a "revirar os olhos". “Ficava tudo branco, perdia aquela bolinha”, chegou a dizer o pai. Eram o início das convulsões.
Sem condições financeiras, levaram para o HUT. “Só que no HUT não tem neuropediatra”, falou, em entrevista para a primeira matéria publicada sobre o lamentável caso. Lá, no entanto, em meio aos exames, se detectou uma possível lesão no cérebro da criança.
A médica responsável pelo atendimento sugeriu então que os pais procurassem o “doutor Geraldo” na DMI. Este fez exames, mas não conseguiu chegar a um diagnóstico preciso. Seriam necessários mais exames. Os pais da criança não têm condições financeiras.
O quadro de Kallebe Mendes se agravou. Ele foi levado para o Hospital do Satélite, que não tem estrutura para atender a esse tipo de caso. O ideal seria transferir para o Hospital Infantil, mas não havia vagas.
A criança a essa altura estava vomitando, com diarreia, e logo entrou em sono profundo, após intensas crises de convulsão. Enquanto muitos brincavam o Carnaval, Kallebe simplesmente dormia, por cerca de quatro dias.
"Aqui ele teve convulsões. Antes eram só focais. Agora teve convulsões mesmo. E aí foram controladas com uma outra medicação. Ele dormiu e não mais acordou. Está com quatro dias hoje que ele está dormindo. E nós estamos com ele aqui no hospital desde segunda-feira (20), mas o hospital não tem como cuidar do meu filho, da parte neurológica. Não tem neuropediatra aqui, não tem gastro infantil”, foi um dos relatos do pai.
"Ele não abre mais os olhos. Até tenta, mas não consegue", complementou a mãe.
_Morte de criança de 9 meses que esperou por 8 dias por uma vaga no Hospital Infantil chama atenção para a falta de estrutura da saúde do Estado...kallebe.jpg
CORRENTE DO BEM
Em meio aos dias de espera, uma corrente anônima começou a se formar, repassando a informação de que algo deveria ser feito para que Kallebe Mendes fosse transferido para o Hospital Infantil e recebesse um atendimento digno. Até que alguém de bom espírito, que tomou conhecimento do caso no Carnaval, repassou os telefones dos pais de Kallebe e relatou a situação a um profissional do 180 em Brasília, para que se tentasse influir sobre aquela situação, através (por que não?) de um texto editorializado. Deu certo.
A publicação sobre a criança que agonizava sem o devido atendimento foi manchete do 180 na Quarta-Feira de Cinzas (1º), às 12h37. [Mãe até implora, mas não consegue vaga para o filho no Hospital Infantil- foi um dos títulos que obteve].
Horas depois, a mãe comunicava a transferência. Os pais estavam felizes, esperançosos. "Já estamos aqui no Hospital Infantil. Ta bom? Amém, muito obrigada, de coração", dizia Flávia Ribeiro. Parte da declaração foi ao ar às 19h42 do mesmo dia [Hospital recebe criança que padecia e não conseguia vaga há oito dias].
Na sexta-feira (3), diante do quatro do filho, e sem ainda terem um diagnóstico do que realmente ocorrera, travaram o seguinte diálogo via WhatsApp:.
Pais: Oi. Passando para dizer que o Kallebe está na UTI.
180: Em que estado? Qual foi o diagnóstico?
Pais: O problema na cabeça ainda está sendo investigado. O que levou ele para a UTI foi pneumonia e infecções. Estamos esperando dar 3 horas (15h) para poder ver ele e saber o estado em que ele está.
Àquela altura, Kallebe Mendes estava perdendo as forças e a luta pela vida, vindo a falecer um pouco mais de 48 horas depois. Como não poderia ser diferente, os pais estam desolados.
Sem condições financeiras, amigos estavam ajudando com os custos do velório. Conseguiram comprar o pequeno caixão.
O velório seria pela madrugada e o enterro logo pela manhã desta segunda-feira (6).
NÃO HÁ PELO QUE SE CULPAREM
É lógico que em casos como esses, os pais se questionam sobre o que mais poderiam ter feito para salvar o filho. A resposta é límpida e cristalina: há maior ato do que implorar para que socorram o seu próprio filho? Fizeram tudo o que podiam, movimentando - talvez com aquelas forças inexplicáveis - pessoas geograficamente em pontos diferentes do país, que se engajaram na causa.
_Reprodução de Capa da Revista Época desta semana: o descaso com a Saúde do Brasil e a eterna espera por leitos, aqui, de UTI'shome-revista-epoca-edicao-976.png
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NÃO SE TRATA DE DESAFIAR OS DESÍGNIOS DE DEUS, MAS DE QUESTIONAR A APATIA DOS HOMENS FRENTE ÀS SUAS RESPONSABILIDADES: TUDO QUE PODIA SER FEITO FOI REALMENTE FEITO NO CASO ENVOLVENDO KALLEBE?
Por RR
- Mais uma questão para os homens públicos: roubar da Saúde, enquanto há prioridades gritantes a serem resolvidas, é algo abominável. É bom que se diga! É oportuno. Portanto, silenciar diante de casos assim - roubos da Saúde -, é enfileirar-se no apoio a tais práticas. Esse acréscimo é só um 'adendo'. Ao caso em específico:
Há doutrina religiosa que prega que se um ser ficou pouco tempo em meio aos demais mortais, é que já seria um espírito evoluído, e não teria muito o que aprender, mas a ensinar, ainda que através da dor. Há um música, do lendário Renato Russo, que diz: "É tão estranho. Os bons morrem jovens. Assim parece ser". Essa mesma doutrina diz que coube a Renato Russo, ainda que não conseguisse dominar seus impulsos autodestrutivos, despertar toda uma geração com a força das suas letras, da palavra escrita, cantada e interpretada. Bem... Kallebe ficou 9 meses na face da Terra. Choca o fato de saber que ele morreu em meio a uma luta desesperada dos pais, sem condições financeiras, para que conseguissem uma mísera vaga num hospital. Seria inocência querer desafiar os desígnios de Deus, sempre presentes na vida de todos, ainda que Nele não acreditemos - o que não é o caso desse jornalista. Mas é absolutamente improvável que não se questione se a inércia do Estado contribuiu para levar essa criança à morte. Enquanto alguns se esbaldavam no Carnaval, uma corrente do bem se formava em torno de Kallebe. Então não era ele meio que sozinho lutando contra um Estado inerte. Havia quem fosse por ele na última hora. Portanto, não há frágil que não tenha ao seu lado fortes, ainda que não os vejamos. E, diante do caso, alguns questionamentos ficam: Seu quadro teria se agravado por que não teve o atendimento imediato ou já se agravou no Hospital Infantil? Que infecções acometeram Kallebe? Ele já chegou com elas ou adquiriu em meio ao atendimento no Hospital Infantil? Quais problemas Kallebe tinha na cabeça? A falta de um diagnóstico preciso e rápido traz à tona a ausência de estrutura do Hospital Infantil? Por que a criança só foi transferida após repercussão do caso na imprensa? O Hospital do Satélite comunicou a necessidade da vaga? Há mais. A capa da Revista Época desta semana – que permeia nessa matéria, traz caso semelhante. Na publicação da semanal ela crava: “Um levantamento realizado pela entidade, no final do ano passado, com diretores clínicos de 15 hospitais públicos ou filantrópicos localizados na capital paulista, revelou que pacientes graves esperam, em média, até dois dias por um leito de UTI. “Isso é gravíssimo. Não tem perdão”, disse Mauro Aranha, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Kallebe esperou 8 dias para entrar em um hospital e, muito provavelmente, só foi transferido porque a imprensa bateu em cima, como diz o jargão popular, mesmo com uma mãe implorando. Então, pela visão de Mauro Aranha, a quem não se deve perdoar, Vinícius Pontes do Nascimento, senhor diretor do Hospital Infantil? Foi realmente o 'acaso', 'fatalidade'?
_Vinícius Nascimento, o diretor do Hospital Infantildiretorhospital.jpg
Blogueiro: Por Rômulo Rocha - De Brasília
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OI


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