quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Cirurgia Plástica n adolescência


 

Páginas 45 a 47

Cirurgia plástica na adolescência

Autores: Ricardo do Rêgo Barros1
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INTRODUÇÃO 

A adolescência é uma fase da vida humana caracterizada por inúmeras transformações que se processam tanto no aspecto orgânico como na esfera psicossocial. A grande maioria dos adolescentes passa por experiências evolutivas que incluem:


  • aceitação de seu corpo e seu correspondente gênero masculino ou feminino;
  • estabelecimento de novas amizades com pessoas da mesma idade e de ambos os sexos;
  • inserção e aceitação no seu grupo de jovens.


  • A popularização das cirurgias plásticas e a distorção estética do corpo ideal, massificadas através dos meios de comunicação, principalmente televisão e internet, tornaram a busca da perfeição um objetivo a ser alcançado não só pelos adultos como também pelos adolescentes, que procuram melhorar sua auto-estima e auto-imagem, visando uma melhor aceitação social.


    ESTATÍSTICAS

    Segundo a Associação Americana de Cirurgia Plástica (ASPS), foram realizados 9,2 milhões de procedimentos ligados a estética e 5,6 milhões de cirurgias reparadoras no ano de 2004. Entre os procedimentos cosméticos destacam-se rinoplastia, lipoaspiração, cirurgia de pálpebras, aumento mamário e lifting facial, conforme mostra a Tabela 1.




    As estatísticas relativas à faixa etária de até 18 anos contabilizaram 326.200 procedimentos ou 3% do total geral, assim como discriminado na Tabela 2.




    Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), foram realizadas 616.287 cirurgias plásticas em 2004, sendo 365.698 estéticas (59%) e 250.589 reparadoras (41%), não havendo discriminação sobre as feitas em menores de 18 anos.


    CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS NA ADOLESCÊNCIA

    Analisando os dados apresentados na Tabela 2, podemos tecer algumas considerações sobre os principais procedimentos estéticos realizados até 18 anos:


  • aumento/diminuição dos seios: as adolescentes cujos seios se desenvolvem muito pouco, demais, muito cedo ou muito tarde se tornam ansiosas e procuram auxílio médico. Como regra geral, a menarca é um marco de referência para correções estéticas, pois, ao ocorrer a primeira menstruação, praticamente se encerra o crescimento linear das adolescentes, correspondendo ao estágio Tanner 4. A hipertrofia mamária juvenil, um grande aumento dos seios, ocorre normalmente em Tanner 4, com significante redução em Tanner 5. A mamoplastia redutora é indicada a pacientes que apresentem sintomatologia importante, como dor nas costas e problemas posturais, além de preocupações cosméticas e disfunções emocionais. O aumento mamário deve ser considerado em três situações: 
    - melhorar a imagem corporal, prejudicada pelos seios pequenos; 
    - equilibrar diferenças no tamanho dos seios; 
    - corrigir uma redução do volume mamário após gravidez;
  • ginecomastia: o aumento do tecido mamário masculino é um achado freqüente (cerca de 50% dos adolescentes), com início em Tanner 2, sendo a idade média de surgimento 13 anos, com maior prevalência aos 14. A ginecomastia causa grande constrangimento aos meninos, principalmente por estar ligada a tabus que precisam ser desmistificados (masturbação). Na maioria dos casos é fisiológica e regride em um a dois anos, devendo ser excluído o uso de medicamentos e de drogas como anabolizantes, maconha, heroína e outros. Em adolescentes obesos ou com sobrepeso devemos estimular a prática de exercícios e dieta adequada, visando corrigir a lipomastia, que muitas vezes é confundida com ginecomastia. Somente 4% dos adolescentes persistem com ginecomastia na vida adulta, e a cirurgia corretora deve ser indicada após o final do estirão do crescimento, avaliado por gráficos próprios na consulta clínica de rotina. A ginecomastia assimétrica ou unilateral é freqüente, mas devemos estar atentos à possibilidade de malignidade quando encontramos uma massa unilateral e firme aderida ao tecido mamário;
  • lipoaspiração: tem se tornado uma pergunta freqüente nos consultórios em função do crescente e preocupante aumento da obesidade em crianças e adolescentes. A industrialização e o acesso fácil à informação mudaram os hábitos e costumes da civilização moderna, que, associados a erros alimentares e vida sedentária, criaram uma epidemia mundial de obesidade. Os adolescentes obesos são discriminados socialmente, fato que contribui para um sentimento de inferioridade em um período da vida no qual se valorizam a auto-estima e auto-imagem para sua inserção grupal.


  • A lipoaspiração só deve ser indicada a pacientes que esgotaram todos os meios de correção ponderal, como exercícios, reeducação alimentar e apoio psicológico. A idade ideal para a cirurgia nos adolescentes não é uma questão crucial, devendo ocorrer, preferencialmente, após o término do estirão do crescimento em pacientes fisicamente saudáveis e estáveis psicologicamente. O julgamento cirúrgico deve incluir as expectativas dos adolescentes em relação aos resultados finais, com ênfase na prevenção de recorrências do aumento de peso com a combinação de exercícios físicos e bons hábitos alimentares;


  • rinoplastia: deve ser considerada após o final do estirão do crescimento, em média aos 14-15 anos para meninas e 16-18 anos para meninos, devendo esse término do estirão ser confirmado pelo pediatra clínico. Devemos levar em consideração o ajuste social e emocional do paciente, assegurando que a vontade de realizar a cirurgia é do adolescente, e não dos pais;
  • correção das orelhas: entre os procedimentos citados na Tabela 2, a cirurgia de orelhas foi responsável por um quinto das cirurgias realizadas antes dos 18 anos (13 mil).


  • Podemos deduzir que grande parte dessas correções foi solicitada pelos pais, sendo provavelmente a orelha em abano o maior problema. Na prática, os pais já questionam sobre essa cirurgia desde a mais tenra idade (abaixo de 1 ano), principalmente no caso de meninas. Em princípio não temos evidências de contra-indicação da correção em crianças menores, justificando a cirurgia para uma melhor socialização desses pacientes.


    CONCLUSÕES

    O fenômeno da globalização modificou bastante os objetivos e expectativas dos adolescentes de todas as camadas sociais, já que o pleno acesso às mais variadas informações e a grande influência dos meios de comunicação criaram novos modelos e modismos em curtos períodos de tempo. Os conceitos de auto-estima e auto-imagem são extremamente importantes na adolescência, na qual a aceitação grupal e o convívio social são pontos fundamentais para o desenvolvimento da maturidade e da independência.

    Entre as características psicológicas da chamada síndrome normal da adolescência encontramos a atemporalidade, configurada pelo imediatismo de ações e um imaginário exageradamente fantasioso, características essas que podem ser erroneamente manuseadas pelos diversos profissionais que lidam com essa faixa etária. Muitas vezes, decisões impulsivas e impensadas de correções estéticas podem induzir a sérios problemas psicológicos futuros, fundamentalmente por não terem atingido suas expectativas imaginárias.

    As cirurgias estéticas na adolescência devem ser discutidas pelo pediatra clínico e pelo cirurgião plástico, com o objetivo de se atingir um julgamento cirúrgico adequado, devendo ser valorizados aspectos como:


  • idade ideal para correção;
  • inserção social;
  • estabilidade emocional;
  • auto-estima e auto-imagem;
  • higidez física.



  • REFERÊNCIAS

    1. Barros R, Coutinho MFG. A consulta do adolescente. In: Adolescência: uma abordagem prática. Rio de Janeiro: Editora Atheneu. 2001;3-14.

    2. Greydanus DE, Patel DR, Pratt HD. Breast disorders. In: Essential Adolescent Medicine. McGraw-Hill Medical Publishing Division. 2006;569-90.

    3. Neinstein LS. Health screening and evaluation. In: Adolescent health care. Philadelphia: Williams & Wilkins. 1996;61-110.

    4. Davis AJ, Kulig JW. Adolescent breast disorders. Adolescent health update. 1996;9(1).

    5. Kreipe RE. Overweight adolescents: clinical challenges and strategies. Adolescent Health Update. 1998;10(2).

    6. Strassburger VC, Brow RT. The office visit. Adolescent medicine: a practical guide. 2 ed. Lippincott-Raven. 1998.

    7. Coutinho MFG, Beserra ICR. Desenvolvimento puberal normal e suas alterações. In: Adolescência: uma abordagem prática . Rio de Janeiro: Editora Atheneu. 2001;33-47.










    1. Pediatra; chefe do Serviço de Adolescentes do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG/UFRJ);especialista em Medicina de Adolescentes pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Pediatria (AMB/SBP).
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