sexta-feira, 7 de julho de 2017

Sexo oral ajuda a espalhar superbactéria da gonorreia, alerta OMS

Queda no uso de preservativos está disseminando a doença; cura foi considerada

 'impossível' em casos na Europa e no Japão

Jamil Chade, Correspondente de O Estado de S. Paulo
07 Julho 2017 | 09h50
GENEBRA - A queda no uso de preservativos, incluindo na prática de sexo oral, está ajudando a disseminar uma superbactéria da gonorreia e a torná-la cada vez mais difícil de tratar. Em algumas situações, a cura foi considerada "impossível" em pacientes na Europa e no Japão. 
Forte resistência de superbactéria da gonorreia preocupa OMS
Causada pela bactéria 'Neisseria gonorrhoea', a gonorreia teria se espalhado com maior facilidade diante da queda no uso de preservativos Foto: Bazuki Muhammad/Reuters
O alerta está sendo lançado nesta sexta-feira, 7, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), depois de constatar que a infecção sexualmente transmissível - responsável pela infertilidade - está rapidamente desenvolvendo uma forte resistência aos antibióticos. 
Se não bastasse, a indústria farmacêutica investiu pouco nos últimos anos no combate a essa doença e, portanto, os novos remédios que chegam ao mercado são escassos. Para um dos produtos tradicionalmente usados, o ciproflaxacin, a resistência foi registrada em 97% dos países avaliados pela OMS. Hoje, apenas um remédio é considerado como eficiente, o ESC.  
De acordo com a OMS, cerca de 78 milhões de pessoas são contaminadas a cada ano pela doença. Em um levantamento realizado em 77 países, a entidade constatou que a resistência é "generalizada".
Em pelo menos três casos, a OMS alerta que a gonorreia não teve cura. Dois deles foram registrados na Europa  - na Espanha e na França - e outro no Japão.
"Trata-se de uma bactéria muito inteligente e, cada vez que um novo antibiótico é introduzido, ela se torna mais resistente", disse Teodora Wi, responsável da agência da ONU para Saúde. 
Em apenas 15 anos, a comunidade médica já foi obrigada a mudar de tratamento três vezes diante da ineficiência dos produtos e da resistência desenvolvida. Hoje, a agência de saúde considera que o cenário é "muito preocupante".
O que mais deixa a OMS em estado de alerta é o fato de que a maioria das infecções está sendo registrada em países pobres, onde os estudos sobre a resistência são mais escassos e o monitoramento, frágil. "O que sabemos pode ser apenas a ponta do iceberg", alertou Wi. 
Se a infecção pode afetar as partes genitais e até aumentar o risco de HIV, é o impacto na garganta que mais preocupa no que se refere à capacidade da doença em sofrer uma mutação. A resistência aos remédios seria ainda maior por causa da mistura que a bactéria identificaria com o tratamento contra uma infecção regular da garganta. 

Preservativos

Causada pela bactéria Neisseria gonorrhoea, a doença ainda teria se espalhado com maior facilidade diante da queda no uso de preservativos. O fato de seus sintomas -  secreção amarelada e esverdeada nos órgãos genitais - serem pouco conhecidos para uma parte importante da população também estaria levando a doença a se desenvolver sem um tratamento adequado. 
Diante dos riscos, a OMS está apelando para que governos passem a monitorar a proliferação da resistência da doença e que invistam em novos remédios. Mas, para a entidade, apenas o desenvolvimento de uma vacina poderia frear de forma definitiva a proliferação. 

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