sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Juiz condena médicos que retiraram órgãos de garoto ainda vivo para vender


Carlos Eduardo Cherem
Do UOL, em Belo Horizonte


  • O menino Paulo Pavesi, cujos órgãos foram retirados quando ainda estava vivo, na Santa Casa de Poços de Caldas (MG)
    O menino Paulo Pavesi, cujos órgãos foram retirados quando ainda estava vivo, na Santa Casa de Poços de Caldas (MG)
Mais três médicos envolvidos na comercialização de órgãos e tecidos humanos na cidade de Poços de Caldas (460 km de Belo Horizonte, MG) foram condenados pela Justiça.
Os médicos Celso Roberto Fransson Scafi, Cláudio Rogério Carneiro Fernandes e Sérgio Poli Gaspar foram considerados responsáveis pela morte do menino Paulo Veronesi Pavesi, 10.
Em abril de 2000, o garoto foi atendido pelos médicos na Santa Casa de Poços de Caldas após ter caído do prédio onde morava. Ele passou por procedimentos inadequados e teve os seus órgãos removidos, quando ainda estava vivo, para posterior transplante, por meio de diagnóstico forjado de morte encefálica.
Gaspar, Scafi e Fernandes foram condenados, respectivamente, a 14 anos, 18 anos e 17 anos de reclusão em regime fechado.
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O menino boliviano Brayan Yanarico Capcha, 5, foi morto com um tiro na cabeça no dia 28 de junho de 2013 durante um assalto a uma residência, na região de São Mateus, zona leste de São Paulo. Segundo a polícia, seis homens armados invadiram a casa no bairro de Jardim Conquista, anunciaram o assalto e fizeram uma família de bolivianos refém. Após levarem R$ 4.500, um dos criminosos, insatisfeito com o valor da quantia, atirou contra o garoto, que chorava e pedia para não ser morto Leia mais Reprodução/ SBT
Cabe recurso à sentença emitida nesta sexta-feira (7) pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Poços de Caldas, Narciso Alvarenga Monteiro de Castro.
O magistrado considerou os médicos culpados pelo crime de remoção de órgãos, com o agravante de tê-lo praticado em pessoa viva, resultando em morte, baseado na Lei 9.434/97 (Lei de Transplantes).
Foram ainda estabelecidas penas pecuniárias, de acordo com as "excelentes condições financeiras dos médicos".
A multa fixada para Gaspar foi de 250 dias-multa, sendo cada um equivalente a 2,5 salários mínimos. Os outros dois médicos vão pagar 320 dias-multa, fixado cada dia em três salários mínimos.
Na sentença, o magistrado não permitiu que os condenados aguardem eventual recurso em liberdade e decretou a prisão preventiva imediata deles.
Na avaliação do juiz, a liberdade desses médicos poderá prejudicar a tramitação processual deste e de outros processos e inquéritos em andamento com relação à chamada "máfia de órgãos de Poços de Caldas".
"A prisão se justifica para garantir a ordem pública, nitidamente abalada pelas ações dos condenados, a conveniente instrução processual dos outros feitos conexos e a futura aplicação da lei penal", afirmou Castro, em sua decisão.
"Até o trânsito em julgado das sentenças condenatórias, muito tempo irá passar, pois recursos e mais recursos serão impetrados, dado o poderio financeiro dos réus e a infinidade de recursos à disposição (por uma legislação retrógrada, pouco afinada com os dias atuais)", disse.
Eles foram presos logo após o anúncio da sentença, nesta sexta-feira (7), e estão à disposição da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais, na delegacia da cidade.
A reportagem do UOL não localizou os advogados dos condenados para comentarem a decisão da Justiça.
Os condenados formavam a equipe médica da MG-Sul Transplantes, organização clandestina e criminosa responsável por realizar transplantes e remoção de órgãos irregularmente.
Em fevereiro do ano passado, Scafi e Fernandes foram condenados pelo mesmo crime, juntamente com os médicos Alexandre Crispino Zincone e João Alberto Goes Brandão, no caso de outra vítima.
Dois outros médicos também denunciados por comercialização de órgãos e tecidos humanos do município tiveram declarada a "extinção da punibilidade" por terem completado 70 anos de idade.
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A engenheira Patrícia Amieiro Franco, 24, desapareceu em 14 junho de 2008, depois de sofrer um acidente automobilístico na saída do túnel do Joá, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. A polícia nunca encontrou o corpo da engenheira. Quatro policiais militares são acusados de homicídio qualificado e ocultação do corpo Leia maisReprodução/Agência O Globo

Médicos serviam no SUS

O juiz decretou também a perda dos cargos públicos dos três sentenciados, ressaltando que eles "são servidores públicos e houve lesão à administração pública, devido ao recebimento indevido de verbas do SUS (Sistema Único de Saúde)". 
Assim, o magistrado determinou também a expedição de ofícios ao Ministério da Saúde, ao governo de Minas Gerais, à Prefeitura de Poços de Caldas e aos hospitais da região, instruindo o descredenciamento imediato dos condenados no SUS.
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Pesquisadores desenvolvem órgãos biônicos para transplantes humanos19 fotos

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A empresa francesa Carmata apresentou em julho de 2013 um coração artificial com tecido bovino que será testado em breve por pacientes com problemas cardíacos. O material orgânico (formas elípticas marrons, na ilustração à direita) substitui o plástico nas superfícies irrigadas pelo sangue, diminuindo os problemas de coagulação após o transplante, segundo o fabricante. O órgão biônico é regulado por sensores, softwares e microeletrônicos e funciona com duas baterias externas de íons de lítio Carmat     

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