domingo, 21 de julho de 2024

Paciente de Campinas vive 4 anos com gaze esquecida na barriga

 09/02/2017 21h12 - Atualizado em 09/02/2017 21h26

Paciente de Campinas vive 4 anos com gaze esquecida na barriga

Em Socorro, jovem também passou pela mesma situação durante o parto.
Mulher morreu após compressa não ser retirada em cesárea semana passada.

Do G1 Campinas e RegiãoReproduzir vídeo

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Há uma semana a morte de uma mulher de Nova Odessa (SP) chocou a região. Depois de uma cesária, a equipe que fez a cirurgia esqueceu uma compressa dentro dela. Cerca de 10 dias depois, ela passou mal e não resistiu. No entanto, casos como esse não são tão raros. O médico conselheiro do Cremesp admite que em algumas situações erros assim acontecem.

Em Campinas (SP), uma paciente viveu quatro anos com uma gaze que foi esquecida na barriga durante uma cesárea em um hospital particular. Já em Socorro (SP), uma jovem teve uma compressa que não foi retirada pelos médicos quando deu à luz de parto normal ao primeiro filho.

Paciente viveu com gaze esquecida na barriga por 4 anos (Foto: Reprodução/ EPTV)Paciente viveu com gaze esquecida na barriga por 4 anos (Foto: Reprodução/ EPTV)













4 anos
A dona de casa Cláudia Vicinança viveu quatro anos com uma gaze esquecida na barriga após uma cesárea em um hospital particular de Campinas. Ela sentia muitas dores, mas conta que só descobriu o problema quando resolveu ter um segundo filho.

"Eu sentia que eu tinha algum problema. Eu sentia muitas dores, eu me sentia mal. Eu não tinha uma vida normal. O médico que procurei era especialista em reprodução e disse 'não vou te enganar', você não tem mais condições de poder ter outro filho", relembra.

Cláudia conta que o estrago que o erro médico trouxe em sua vida nunca será esquecido. "A gente nunca esquece. A gente não consegue superar porque a gente fica com sequelas. Errar acontece, mas são muitos erros", desabafa.

Eu sentia que eu tinha algum problema. Eu sentia muitas dores, eu me sentia mal. Eu não tinha uma vida normal"
Cláudia Vicinança, dona de casa

O médico que atendeu a Cláudia perdeu uma ação na Justiça, teve que indenizar a paciente, mas continua trabalhando.

Muita dor
Já o caso da estudante Daiana Oliveira aconteceu há seis anos em Socorro, em um hospital público.

Ela conta que desconfiou que algo estava errado após o nascimento do filho porque sentia muita dor. "Eu sentia muita dor e febre, só que eu cheguei a achar que eram os pontos, não que era uma compressa", afirma.

Ela procurou ajuda em um posto de saúde e a enfermeira percebeu que havia algo estranho e conseguiu retirar, mas por causa das complicações teve que tomar vários antibióticos. "Eu não pude amamentar meu filho, que é um momento que é único na vida da gente. Você vai ter um filho e não imagina que vai passar por tudo isso", desabafa.

O médico que fez o parto da Daiane ainda responde na Justiça e por enquanto, continua trabalhando.

Procedimento
As compressas feitas de gaze normalmente são usadas em grandes cirurgias para estancar sangramentos. Mas para que nada seja esquecido dentro do paciente, o Ministério da Saúde tem um protocolo que diz que todos os instrumentos e materiais devem ser contados antes e depois do procedimento.

Mesmo assim o médico conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) Renato Françoso admite que em alguns casos erros acontecem. "Infecções importantes dentro da cavidade abdominal, pacientes obsesos, de grande dificuldade de acesso cirúrgico são essas situações que podem muitas vezes não justificar, mas explicar porque esses instrumentos foram deixados", conclui.

Jovem de Socorro teve compressa esquecida na barriga durante parto (Foto: Reprodução/ EPTV)Jovem de Socorro teve compressa esquecida na barriga durante parto (Foto: Reprodução/ EPTV)https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2017/02/paciente-de-campinas-vive-4-anos-com-gaze-esquecida-na-barriga.html

Médico esquece pinça dentro de paciente e ela não consegue atendimento



Hospital e médico condenados por lâmina de bisturi esquecida dentro do paciente

 por BEA — publicado há 8 anos

raio xA 1ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, por unanimidade, deu parcial provimento a recurso do médico, apenas para condenar a autora a arcar com metade das custas processuais e dos honorários de sucumbência em razão de seu pedido inicial não ter sido totalmente acatado.

A autora ajuizou ação para ser indenizada pelos danos materiais e morais causados pelo erro médico do réu, ocorrido dentro das dependências do Hospital Ana Isabel de Carvalho. Segundo a autora, o Dr. Eudes Carvalho Assis realizou cirurgia para a retirada de sua vesícula biliar porém, após a cirurgia, a autora passou a sentir fortes dores na região abdominal e, depois de realizar uma radiografia, foi constatada a presença de uma lâmina de bisturi dentro de seu abdômen, que gerou a necessidade de nova cirurgia para a retirada do objeto esquecido.   

O Hospital apresentou defesa na qual alegou que apenas cedeu suas instalações para o médico responsável, que não tem vínculo profissional com o médico, que a autora não teria juntado provas ao processo, e que não haveria ligação entre a cirurgia feita em seu hospital com a cirurgia realizada para retirada do objeto encontrado no abdômen da autora. Por fim, afirmou que a autora teria omitido o fato de ter sido submetida a uma cirurgia cardíaca e que a lâmina poderia ter relação com a cirurgia onde foi feita a abertura de seu tórax.

O médico também apresentou defesa e alegou que o direito de indenização da autora estaria prescrito, que a lâmina encontrada não teria nenhuma relação com a cirurgia de retirada da vesícula, pois foi encontrada em local diverso de onde a cirurgia foi realizada, além de ser de tamanho incompatível com o bisturi que utiliza para extração de vesícula. Ao final, afirmou que a lâmina encontrada seria compatível com um bisturi utilizado em cirurgias cardíacas, procedimento pelo qual a autora já teria sido submetida, mas não havia mencionado.

A sentença proferida pelo Juízo da 6ª Vara da Cível de Brasília julgou parcialmente procedente o pedido e condenou os réus ao pagamento de danos morais no valor de R$ 30 mil. O magistrado destacou que os exames realizados antes da cirurgia que retirou a vesícula demonstram que não havia a presença da lâmina no corpo da autora:"A paciente foi submetida a dois exames de imagens, um em 20.5.06, e outro em 22.05.06 (fls. 82 e 86), onde não se constatou a presença de qualquer objeto estranho, o que elimina a possibilidade de a lâmina já se encontrar no corpo da autora, quando da cirurgia para retirada da vesícula em 2006, realizada pelo segundo réu. Conclui-se, portanto, que não foi na cirurgia de revascularização, ocorrida em 2004. Exame importantíssimo a comprovar que não foi na cirurgia cardíaca que houve o esquecimento da lâmina foi a ecografia total do abdômen da autora(fls. 277), em que não foi verificada a presença do instrumento. Este exame foi realizado no dia 16.5.06, poucos dias antes da cirurgia realizada pelo segundo réu. O médico, ora réu, deveria ter visto a lâmina nas imagens, caso estivesse ali naquela época, pois foi com este exame que se detectou a colecistolitíase com sinais de colecistite, que levou à necessidade da cirurgia de colecistectomia. Não pode o réu querer se valer do exame realizado em agosto de 2008 - fls. 622 - para dizer que o raio X nada apontou, o que justificaria a inexistência da lâmina no seu pós-cirúrgico, pois referido exame diz respeito à radiografia do tórax e não do abdômen, que sugestionaria o erro em cirurgia posterior".   

O médico apresentou recurso, e os desembargadores entenderam que a autora deveria ser condenada a arcar com metade das custas processuais e honorários de sucumbência em razão de seu pedido de dano material ter sido negado; no mais, entenderam por manter a condenação pelos danos morais no valor de R$ 30 mil.

Processo: APC 2011.01.1.073061-7

Médico esquece instrumento entre o pescoço e coração de paciente e estado de SP é condenado em R$ 50 mil

 Corpo estranho foi deixado durante tratamento de hemodiálise em São Vicente (SP). Estado de São Paulo pagará pela demora em conceder a cirurgia de retirada.

Por Gyovanna Soares, g1 Santos

Médico esqueceu fio-guia entre pescoço e coração de paciente em São Vicente (SP) — Foto: Arquivo pessoal e Reprodução

Médico esqueceu fio-guia entre pescoço e coração de paciente em São Vicente (SP) — Foto: Arquivo pessoal e Reprodução

Um homem, de 47 anos, teve um fio-guia esquecido por um médico entre a jugular e o átrio direito do coração. A situação aconteceu durante um tratamento para insuficiência renal. De acordo com parecer médico, juntado no processo, o paciente correu risco de morte por ter ficado com o instrumento no corpo. O estado de São Paulo foi condenado a pagar R$ 50 mil por não ter feito uma cirurgia para a remoção do fio-guia no prazo estabelecido.

Os advogados do autônomo Vanes de Jesus da Silva conseguiram uma liminar na Justiça para que o estado assumisse a cirurgia de retirada do instrumento, esquecido em 2022. Parte do fio-guia só foi removido neste ano e, portanto, por não ter cumprido o pedido de urgência, foram aplicadas as multas, que totalizaram R$ 50 mil.

Vanes tem diabetes [alto nível de açúcar no sangue] e, por este motivo, desenvolveu uma insuficiência renal grave em julho de 2022. Naquela época, ele iniciou a hemodiálise, um tratamento que serve como um rim 'artificial' e precisa da inserção de um cateter na região do peito, com auxílio de um fio-guia, que acabou sendo esquecido dentro dele.

A filha de Vanes, Jullyana Dionísio, de 24 anos, explicou ao g1 que o pai é morador de Itanhaém, no litoral de São Paulo, mas o procedimento foi realizado no Instituto Segumed, em São Vicente (SP), pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Em abril de 2023, ele colocou uma fístula arteriovenosa no braço no Hospital do Vicentino. Este dispositivo tem a mesma função do cateter que, por este motivo, foi retirado em junho daquele ano.

"Mesmo o médico retirando o cateter, não se ligou que o fio-guia estava esquecido", disse a filha.

A Prefeitura de São Vicente informou ao g1 que mantém contrato de prestação de serviço com a Segumed e não foi notificada sobre este caso. A pasta, no entanto, afirmou apurar o ocorrido com a empresa, que atende pacientes da Baixada Santista por meio do Departamento Regional de Saúde (DRS).

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Aproximadamente oito meses após o começo da hemodiálise, Vanes começou a sentir dores no peito. Em julho de 2023, o paciente fez um exame de raios-X no Centro de Especialidades Médicas de Itanhaém (Cemi) e foi constatado que o fio-guia do cateter estava alojado da jugular até o átrio direito.

À esquerda, parte do fio-guia esquecido no corpo do paciente. À direita, exame de raios X de Vanes — Foto: Arquivo pessoal e Reprodução

À esquerda, parte do fio-guia esquecido no corpo do paciente. À direita, exame de raios X de Vanes — Foto: Arquivo pessoal e Reprodução

Ele foi encaminhado para agendar a cirurgia de retirada do instrumento pelo SUS, mas, em dezembro do ano passado, ainda não tinha recebido um retorno. Por conta disso, entrou com uma ação contra a Prefeitura de Itanhaém e a Fazenda do Estado de São Paulo e conseguiu uma tutela de urgência.

A filha do autônomo ressaltou, assim como consta no parecer médico, juntado no processo, que a remoção rápida era necessária porque o fio-guia estava em uma área que podia causar a morte de Vanes.

O átrio direito é uma câmera do coração que recebe sangue de diversas partes do corpo, enquanto a jugular é a principal veia que drena o sangue da cabeça e pescoço.Reproduzir vídeo

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Condenação

A Prefeitura de Itanhaém também foi alvo da ação por ser a cidade onde ele mora e deveria receber atendimento médico. Mas, de acordo com o documento da sentença obtido pelo g1, a Justiça entendeu que a administração municipal não tinha culpa sobre o caso e apenas o estado deveria responder o processo.

A Fazenda do Estado foi intimada em 2 de janeiro de 2024 e tinha 15 dias para conceder a cirurgia. Em nota, o Departamento Regional de Saúde (DRS) da Baixada Santista disse que a operação foi realizada em 20 de março deste ano. Ou seja, mais de dois meses depois do prazo estipulado pela Justiça.

Hemodiálise (imagem ilustrativa)  — Foto: Julio Cavalheiro/Arquivo/SECOM

Hemodiálise (imagem ilustrativa) — Foto: Julio Cavalheiro/Arquivo/SECOM

Ainda de acordo com a pasta, o procedimento de retirada não é realizado em hospitais da região, devido ao nível de complexidade da operação. Por este motivo, Vanes fez a cirurgia no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo.

Por conta da demora, a Fazenda do Estado de São Paulo foi condenada a pagar uma multa de R$ 1 mil por dia de atraso, limitada ao valor de R$ 50 mil. Além disso, o órgão também foi obrigado a arcar com os honorários advocatícios, custas e despesas processuais.

Fio-guia

A filha de Vanes disse que foi informada pelos médicos do Instituto Dante Pazzanese de que não foi possível fazer a retirada total do corpo estranho. De acordo com ela, a ponta ficou presa a uma fibrose [formação de tecido de cicatrização] que se criou após o médico responsável pelo erro tentar retirar o fio-guia a sangue frio.

"Isso aconteceu porque o médico responsável pelo erro tentou tirar a sangue frio, na época que soube. O que acabou só machucando mais", afirmou Jullyana. Ela acrescentou que o pai continua fazendo hemodiálise no mesmo local porque não conseguiu transferência da unidade de saúde.

A família, porém, está pagando médicos particulares para ter uma avaliação exata dos riscos do pedaço que ficou após a cirurgia. De acordo com a filha, ainda teriam aproximadamente dez centímetros de fio-guia no corpo de Vanes.

Máquina de hemodiálise (imagem ilustrativa) — Foto: Reprodução/EPTV

Máquina de hemodiálise (imagem ilustrativa) — Foto: Reprodução/EPTV

"O mínimo que esperamos é o nosso direito de que ele possa ter um tratamento digno, com respeito e qualidade. Lutamos para que ele tenha uma boa vida, e que esse erro não venha a se repetir com ele e com ninguém", finalizou Jullyana.

Em nota, os advogados Alexandre Celso Hess Massarelli e Diego Renoldi Quaresma de Oliveira afirmaram que, diante de todo o sofrimento de Vanes, vão ingressar com uma nova ação na Justiça para que ele seja indenizado por danos morais.

g1 entrou em contato com o Instituto Segumed, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.


https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/mais-saude/noticia/2024/07/19/medico-esquece-instrumento-entre-o-pescoco-e-coracao-de-paciente-e-estado-de-sp-e-condenado-em-r-50-mil.ghtml