MP investiga se houve pagamento por uso de registros de médicos
Polícia descobriu 5 pessoas usando CRM de outros na região de Sorocaba. Médico disse à polícia que já teve problemas por uso indevido de dados.
18/07/2015 14h48 - Atualizado em 18/07/2015 20h29
A Polícia Civil e o Ministério Público estão investigando as ocorrências de falsos médicos que atenderam em hospitais da região de Sorocaba (SP). Até este sábado (18), cinco pessoas que trabalharam em unidades de Alumínio, Mairinque e São Roque foram descobertas usando registros profissionais de outros médicos. Em um dos casos, o promotor de Justiça Joaquim Portela Neto explica que vai apurar uma possível negociação financeira entre uma suposta médica e Cibele Lemos, profissional que teve o registro do Conselho Regional de Medicina (CRM) utilizado.
“[O Ministério Público] pediu a quebra de sigilo bancário, para saber, eventualmente, se havia um repasse de enumerário, ou dela [Cibele] para a falsa médica, ou da falsa médica para ela, como uma espécie de aluguel pelo seu nome, pela sua formação, pela sua qualificação junto ao CRM”, diz o promotor.
'Não conheço', diz médica que teve registro usado
por outra mulher (Foto: Reprodução/TV TEM)
por outra mulher (Foto: Reprodução/TV TEM)
A equipe da TV TEM entrou em contato com a médica que teve o registro usado em São Roque e, por telefone, informou que não conhece a mulher. "É óbvio que não a conheço. Já estou conversando com o meu advogado sobre isso", afirmou a médica. A mulher que usou o registro de Cibele foi identificada apenas como Vilca e está sendo procurada.
Outro falso médico identificado como Pablo do Nascimento Mussolim, e preso em flagrante durante operação da Polícia Civil em São Roque nesta sexta-feira, atendia na Santa Casa da cidade com documentos de um médico do Rio Grande do Norte, Pablo Galvão. Mussolim disse à polícia que se formou em medicina na Bolívia, mas não apresentou o diploma. A polícia descobriu que além das cidades da região de Sorocaba, ele também trabalhou emFranca (SP) e Taboão da Serra (SP).
O verdadeiro médico disse aos policiais, na sexta-feira, que já respondeu duas sindicâncias por casos atendidos pelo falso profissional. Por isso os delegados marcaram outro depoimento do falso médico para saber mais detalhes de sua atuação. Segundo a polícia, Pablo Mussolim foi ouvido novamente neste sábado e confirmou que assinou quatro declarações de óbito só em Mairinque.
Três são investigados por utilizarem CRM de outros
médicos (Foto: Reprodução TV TEM)
médicos (Foto: Reprodução TV TEM)
Natani Taisse de Oliveira também está presa. Ela foi flagrada durante a operação da polícia trabalhando com o registro da médica Natália Oliveira, cuja localização ainda não foi confirmada pela polícia. Outras duas pessoas ainda não foram localizadas.
Segundo a delegada que investiga o caso, Fernanda Ueda, os estelionatários não usavam apenas o registro do CRM. “Ele usavam a qualificação do médico verdadeiro”, diz.
60 óbitos
Entre os documentos apreendidos na operação da Polícia Civil nesta sexta-feira, estavam pelo menos 60 declarações de óbito assinadas pelos falsos médicos. A informação é da delegada Fernanda Ueda. O material foi recolhido em São Roque.
Entre os documentos apreendidos na operação da Polícia Civil nesta sexta-feira, estavam pelo menos 60 declarações de óbito assinadas pelos falsos médicos. A informação é da delegada Fernanda Ueda. O material foi recolhido em São Roque.
"Essas declarações foram feitas por quatro pessoas que, em tese, não teriam habilitação. Também não se descarta que eles tenham feito a prática médica e o óbito tenha sido declarado por outro profissional. Existe uma semelhança muito grande entre os médicos falsos com aqueles dos quais eles utilizavam o CRM ", explica Ueda.
O delegado seccional Marcelo Carriel diz que a investigação deve averiguar esse envolvimento dos falsos médicos com os óbitos. ”Agora é a investigação para se constatar se esses óbitos são decorrentes de um mau atendimento ou da falta de um atendimento adequado, como um encaminhamento que não deveria ocorrer, ou se qualquer coisa desse tipo que tenha levado ao óbito dessas pessoas".
A Innovaa, empresa prestadora de serviços responsável pelas contratações dos médicos, emitiu uma nota sobre o caso. De acordo com o comunicado, as admissões foram feitas com base na apresentação dos documentos pessoais e do registro do profissional no Conselho Regional de Medicina (CRM) e, no caso dos médicos irregulares, todos os documentos apresentados condiziam com profissionais médicos registrados no CRM. Segundo a empresa, a falsificação desses documentos não foi detectada, inclusive porque as fotos dos profissionais só passaram a aparecer no site do Cremesp no dia 6 de julho.
Entenda o caso
Cinco médicos irregulares foram descobertos, mas apenas três já foram identificados. Eles são Pablo do Nascimento Mussolim, que utilizava o CRM e o nome de Pablo Galvão, médico do Rio Grande do Norte, Natani Thaisse de Oliveira, que trabalhava com os documentos de Natalia Oliveira, cuja localização ainda não foi confirmada pela polícia, e outra mulher identificada apenas como Vilca, que utilizava o CRM de Cibele Lemos, profissional que trabalha no extremo norte do estado. A polícia ainda não passou os nomes dos outros dois suspeitos.
Cinco médicos irregulares foram descobertos, mas apenas três já foram identificados. Eles são Pablo do Nascimento Mussolim, que utilizava o CRM e o nome de Pablo Galvão, médico do Rio Grande do Norte, Natani Thaisse de Oliveira, que trabalhava com os documentos de Natalia Oliveira, cuja localização ainda não foi confirmada pela polícia, e outra mulher identificada apenas como Vilca, que utilizava o CRM de Cibele Lemos, profissional que trabalha no extremo norte do estado. A polícia ainda não passou os nomes dos outros dois suspeitos.
À esquerda, a falsa médica; à direita, perfil da
verdadeira profissional (Foto: Reprodução/TV Tem)
verdadeira profissional (Foto: Reprodução/TV Tem)
A investigação começou quando, no dia 11 de julho, uma mulher que atendia como médica no pronto-atendimento do município de Alumínio (SP), com o nome e registro profissional de Cibele Lemos, foi embora de um plantão sem dar justificativa à equipeque trabalhava com ela. Indignado, o diretor da unidade decidiu consultar o Conselho Regional de Medicina (CRM) para tomar uma atitude administrativa contra a mulher. Porém, ao abrir o perfil da profissional, viu que a foto não condizia com a pessoa que trabalhava no local.
Depois disso, a diretoria de Saúde, a empresa responsável pela contratação e a polícia passaram a investigar todos os profissionais contratados pela pela prestadora de serviços, que fornecia profissionais para Alumínio, Mairinque (SP) e São Roque (SP).
Na quinta-feira (16), outros dois supostos médicos foram flagrados com nomes e registros falsos. O homem e a mulher foram presos. Eles foram levados para a delegacia de Mairinque para serem ouvidos.
De acordo com o diretor de Saúde de São Roque, Sandro Rizzi, todos os prontuários atendidos por esses médicos serão analisados. "A Santa Casa está chamando aquelas pessoas que foram atendidos por esses médicos, fazendo uma ligação para eles, para ver como é que elas estão. Aquelas que não estiverem bem, vamos convocar para passar um médico, com certeza, médico", explica.
Uma sindicância foi aberta na Santa Casa de Mairinque para investigar os mais de 50 médicos que atuam no local. O Cremesp em Sorocabatambém abriu sindicância para apurar como foram feitas todas as contratações. O Conselho revelou ainda que já está disponível uma nova carteirinha, com chip e foto impressa, que deve evitar a falsificação.
MP investiga se houve pagamento por uso de registros de médicos (Foto: Reprodução/TV TEM)
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