17/04/2018 07:00 -
Regional
Caso de menino morto após picada de escorpião chega à Polícia Civil
Sem soro antiescorpiônico no hospital de Barra Bonita, criança de seis anos teve de ser transferida para Santa Casa de Jaú para ser medicada
Lilian Grasiela
Caso de menino morto após picada de escorpião chega à Polícia Civil - JCNET
Aurélio Alonso |
Bryan Gabriel Alves (no detalhe) foi atendido no Hospital São José de Barra Bonita antes de ser transferido para Jaú |
Familiares de Bryan Gabriel Alves, de seis anos, que morreu no sábado (14) após ser picado por um escorpião no quintal de sua residência, no Jardim Nova Barra, em Barra Bonita (68 quilômetros de Bauru), procuraram a delegacia nesta segunda-feira (16) para registrar boletim de ocorrência pedindo a apuração do caso. No sábado, às 14h, eles farão uma caminhada passando pela prefeitura e pelo hospital onde o menino recebeu os primeiros atendimentos.
Conforme divulgado no domingo (15) pelo JCNet, Bryan reclamou de uma forte dor no pé quando brincava nos fundos do quintal de casa. A tia dele, Monaliza Alves, conta que, num primeiro momento, a mãe achou que ele havia pisado em um caco de vidro. "Ela viu um pontinho de sangue e passou álcool", revela.
Segundo ela, o menino foi para a casa do avô, que fica do outro lado da rua, onde continuou reclamando de dores e formigamento na perna. "A mãe dele foi até o quintal e achou um escorpião no mesmo local onde ele falou que tinha machucado o pé. Aí ela pegou ele no colo, saiu correndo e foi para o hospital".
Reprodução/Redes Sociais |
Bryan Gabriel Alves (no detalhe) foi atendido no Hospital São José de Barra Bonita antes de ser transferido para Jaú |
O menino deu entrada no Hospital e Maternidade São José no início da tarde. A tia conta que, na unidade, ele começou a vomitar e foi levado para a sala de emergência. Somente após cerca de 40 minutos, de acordo com ela, o hospital iniciou os trâmites para transferi-lo de ambulância até a Santa Casa de Jaú.
ENTUBADO
A transferência foi necessária porque o hospital de Barra Bonita não possui soro contra a picada de escorpião. Em Jaú, Bryan recebeu o soro, mas o quadro de saúde dele já havia se agravado e ele foi levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde foi entubado e morreu cerca de uma hora depois.
O corpo dele foi sepultado no final da tarde de domingo, no Cemitério Municipal de Barra Bonita. Para Monaliza, a demora na aplicação do medicamento adequado foi o que causou a morte do seu sobrinho. Até o fim da tarde dessa segunda-feira (16), a família do menino não tinha recebido o atestado de óbito dele.
RESPOSTAS
O diretor do Hospital São José, José Luís Minutti, classificou a morte de Bryan como uma "fatalidade". "Ele foi atendido, estabilizado e transferido para a Santa Casa de Jaú", informa. Segundo ele, a unidade não conta com o soro em razão de decisão administrativa da Secretaria de Estado da Saúde.
Minutti explica que um documento enviado pelo Departamento Regional de Saúde de Bauru (DRS VI) em 2013 revela que o soro era disponibilizado na ocasião apenas para as Santas Casas de Dois Córregos (pela demanda na época) e de Jaú (hospital de referência na região).
O diretor conta que, hoje, apenas a Santa Casa de Jaú possui o medicamento. A reportagem acionou a assessoria de comunicação da Santa Casa de Jaú pedindo informações sobre o atendimento prestado a Bryan, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.
EMPURRA-EMPURRA
Em nota, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria de Estado da Saúde informou que a aquisição e distribuição de soro antiescorpiônico é de responsabilidade do Ministério da Saúde. "O Estado apenas redistribui para os municípios", afirma.
"Vale ressaltar que a definição de alguns locais estratégicos para disponibilização de soro contra animais peçonhentos segue política definida pelo Ministério de Saúde. Anualmente, são notificados cerca de 15 mil casos no Estado".
Segunda a pasta, o envio de ampolas para São Paulo ocorreu com irregularidade e em quantidades insuficientes para a demanda mensal nos últimos meses. Apesar da alegada redução, a Secretaria garante que não há falta de soro na região de Bauru.
"A necessidade do Estado é de 650 ampolas por mês, em média, mas o Ministério tem feito entrega parcial de cerca de 250 ampolas mensais, obrigando o Centro de Vigilância Epidemiológica a equacionar a distribuição do quantitativo nas doses regionais para abastecer devidamente o território paulista", alega.
Também em nota, o Ministério da Saúde declarou que a distribuição dos soros antiveneno segue análise feita pela Coordenação Geral de Doenças Transmissíveis (CGDT), que leva em conta os acidentes causados por animais peçonhentos em cada estado, ampolas utilizadas, estoques nacional e estaduais e cronograma de entregas dos laboratórios produtores.
Neste ano, segundo o órgão, o Estado de São Paulo recebeu 800 doses de soro antiescorpiônico. "O Ministério da Saúde envia doses de vacinas e soros aos estados, que são responsáveis por fazer a distribuição aos municípios, de acordo com as necessidades locais", declara.
"A definição das unidades de saúde que podem disponibilizar os soros antivenenos e a quantidade de ampolas enviadas a cada uma delas é prerrogativa dos estados. A recomendação do Ministério da Saúde é de que estes soros estejam disponíveis em municípios estratégicos, onde há maiores riscos de acidentes".
Prefeitura anuncia combate a escorpiões
Após a morte de Bryan Gabriel Alves, muitos moradores de Barra Bonita usaram as redes sociais para reclamar da infestação de escorpiões no município, até mesmo em pontos considerados turísticos, como a Praça do Teleférico, e para cobrar uma posição mais efetiva do poder público. Em nota, a prefeitura anunciou que está preparando para os próximos dias uma campanha de conscientização e de combate aos escorpiões.
"A prefeitura lamenta profundamente essa fatalidade da morte da criança, supostamente por picada de escorpião. Barra Bonita não vive uma infestação, porém, tem aumentado o aparecimento de escorpiões", revela. A prefeitura informa que fez a dedetização de áreas como o cemitério e que está comprando mais veneno para aplicação e bloqueio em outras áreas. "A prefeitura realiza desde dia 9 a campanha Meu Bairro Limpo, onde o poder público ajuda a população a limpar suas residências e, em contrapartida, limpa os espaços públicos", explica.
De acordo com a administração, nos dias 11,12 e 13, a campanha foi realizada no bairro onde o menino morava com a família. "É muito importante o trabalho da prefeitura quanto à limpeza da cidade, mas a eficácia do trabalho depende também da colaboração da população, contribuindo com a limpeza", ressalta.
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