O caso aconteceu em Guarulhos, cidade da Grande São Paulo; prefeitura diz que consultas são de 15 minutos e que vai mandar uma equipe para atender o bebê da imigrante em casa.
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução/TV Globo
Uma imigrante haitiana de 30 anos denunciou ter sido vítima de racismo na UBS Cidade Seródio, periferia de Guarulhos, cidade da Grande São Paulo, quando foi levar a filha de um mês de vida para a primeira consulta com uma pediatra em fevereiro. A mulher disse a uma rede de ativistas dos Direitos Humanos e de apoio a imigrantes que tinha sido discriminada e humilhada pela pediatra Maria das Graças Silva Pinheiro.
De acordo com o depoimento que a Alma Preta teve acesso e aos relatos de amigos que acompanharam o caso, a mãe chegou na UBS antes das 7h e ficou aguardando ser chamada. Como isso não aconteceu, ela resolveu tirar dúvidas e a pediatra a pediu para esperar.
A mãe ficou com a filha de um mês no colo até que todas as outras pessoas fossem atendidas. Segundo a imigrante, a pediatra perguntou se ela veio para consultar a filha. A mãe respondeu que estava agendada e ao perceber a dificuldade da imigrante com a língua portuguesa a médica disse que não ia atendê-la.
A imigrante haitiana ligou para uma amiga que fala português para explicar melhor os motivos da consulta. Nesse momento, a pediatra Maria das Graças pediu para encerrar a ligação e perguntou qual era a nacionalidade da mãe. Quando ela disse que era haitiana as humilhações e maus tratos seguiram, ela tirou com violência o cartão da criança das mãos da imigrante, tocou na criança “como se fosse lixo”, ainda de acordo com os relatos.
A mãe fala francês, inglês e entende um pouco de português por estar no Brasil há um ano. Ela tem um outro filho pequeno e passou por problemas de saúde durante a gestação, o que a impediu de produzir leite materno. Naquele dia, ela saiu da UBS chorando. A imigrante mora na ocupação São João, também em Guarulhos, e está sem dinheiro para comprar o leite necessário para alimentar a bebê, agora com dois meses de idade. As doações para ajudar a família estão sendo entregues no terminal de ônibus do bairro São João.
Outro lado
A Alma Preta procurou a Secretaria Municipal da Saúde de Guarulhos e questionou sobre os protocolos de atendimento na UBS. Em nota, a secretaria informou que a imigrante chegou antes das 7h e a consulta era às 7h30, mas ela teria ficado do lado de fora da unidade e só entrou às 8h. A médica então fez um encaixe de atendimento às 11h.
Segundo o comunicado enviado à reportagem, a médica relata que a mãe teve dificuldade de entender o português e tirou da bolsa um celular para que uma terceira pessoa falasse. A pediatra explicou para a mãe que não teria condições de falar pelo celular naquele momento, porque “tinha 15 minutos para a consulta, uma vez que precisava atender os demais pacientes”.
A secretaria informou que uma nova consulta estava marcada para a semana passada, mas a mãe não compareceu. Diante disso, uma equipe da unidade fará uma visita domiciliar para saber o motivo da falta, como está a criança e reagendar a consulta.
A Prefeitura de Guarulhos disse ter em sua estrutura uma Subsecretaria de Igualdade Racial, que oferece o serviço de SOS Racismo para vítimas de discriminação étnico-racial, religiosa ou intolerância correlata. A gestão solicitou as informações junto à Secretaria de Saúde para ter esclarecimentos sobre o caso.
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